Morreu Herberto Helder, o poeta oculto

por Andreia Martins, RTP
RTP

Herberto Helder tinha 84 anos e morreu na segunda-feira na sua casa, em Cascais. A Morte sem Mestre foi a última obra publicada - em junho de 2014 - de um autor que sempre optou pelo anonimato e a discrição.

Fonte familiar comunicou à agência Lusa a morte do poeta, na manhã de segunda-feira. As causas não são publicamente conhecidas. Herberto Helder chegou a ser repórter em Angola no início dos anos 70. Sofreu um grave acidente durante a Guerra Colonial.

Herberto Helder nasceu no Funchal em 1930 e afirmou-se como um dos maiores poetas portugueses da contemporaneidade. É considerado por muitos o maior nome da poesia portuguesa dos últimos decénios. 

Tendo frequentado os cursos de Direito e Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que não chegou a concluir, Herberto Helder publicou o primeiro livro em 1958, com o título O Amor em Visita.

Alexandra Sofia Costa, RTP

Antes de se dedicar por inteiro à poesia, Herberto Helder trabalhou como empregado de cafés e cervejarias em países da Europa, nomeadamente França, Holanda e Bélgica."Um dia destes vejo que não vou parar nunca"


Falar de Herberto Helder é combinar a linguagem surrealista que o eleva como um dos mais prestigiados poetas da língua portuguesa com uma personalidade discreta e reservada. Sempre evitou a todo o custo o contacto com a impresa ou as distinções literárias, sem ter dado qualquer entrevista nos últimos 20 anos. "Poesia Toda" (1973),  "Ofício Cantante" (1966-2009) e "A Faca Não Corta o Fogo" (2008) são algumas das principais obras que marcaram mais de meio século de poemas.

Em 1994 recusou mesmo a distinção do Prémio Pessoa, porque "seria vil aceitar, por causa do dinheiro", contava na altura ao Expresso. A distinção atribuia na altura sete mil contos. "Não digam a ninguém e deem o prémio a outro", disse o poeta ao semanário.

A Morte sem Mestre (Porto Editora) foi o último livro publicado, em junho de 2014. Com a edição limitada, foi também lançado um disco com cinco poemas declamados pelo próprio autor. 

Sobre a obra derradeira, o poeta Hélder Macedo caraterizou-a como "o testemunho de uma alma que se recusa ser roubada, mesmo pela morte que não pode estar longe, escrito quando a morte já não pode ser oculta na linguagem em que se manifesta".

O livro de poemas inéditos Servidões (Porto Editora), lançado em 2013, foi um dos maiores sucessos de um autor difícil, senão mesmo impossível de encontrar em livrarias e alfarrabistas. 

Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, já emitiu uma nota de pesar pelo falecimento de Herberto Helder, num documento que faz largos elogios a um autor que "deu línguas à língua portuguesa". A nota da secretaria refere ainda que "poucos foram os que durante os últimos cem anos tanto fizeram pela construção da língua portuguesa".

 

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