Morreu o cantor e autor Luiz Goes

por RTP com Lusa
Desaparece uma referência importante do fado de Coimbra DR

Nascido em 1933, em Coimbra, Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes licenciou-se em Medicina, tendo exercido a profissão de médico dentista em paralelo com a carreira artística. Iniciou-se no fado por influência do tio paterno, Armando Goes, contemporâneo de Edmundo Bettencourt, António Menano, Lucas Junot, Paradela de Oliveira, Almeida d'Eça e Artur Paredes. O cantor Luiz Goes, de 79 anos, uma das referências da canção de Coimbra, morreu hoje em Mafra, nos arredores de Lisboa.

Luiz Goes é uma das referências da Canção de Coimbra

Luiz Goes, 79 anos, falecido hoje em Mafra, vítima de doença prolongada, é uma das referências da Canção de Coimbra, área em que se destacou como poeta, compositor e intérprete.

Sobrinho de Armando Goes, que foi contemporâneo de Edmundo Bettencourt, António Menano, Paradela de Oliveira e Almeida d'Eça, referências da canção de Coimbra nas décadas de 1920 a 1940-50, Luiz Goes começou a cantar aos 14 anos, em público, e gravou o primeiro disco aos 19, a convite de António Brojo.

O médico Camacho Vieira, que foi seu amigo, afirmou à Lusa que "a dimensão artística de Luiz Goes nunca foi devidamente reconhecida".

"Era um cantor de uma invulgar convicção na forma como interpretava as letras, a profundidade que dava às palavras, além da melodiosa voz de grande extensão", afirmou.

O médico referiu ainda "as inúmeras digressões internacionais, nomeadamente um memorável espetáculo que deu nas Nações Unidas, na Suíça".

Luiz Goes apontado como "menino prodígio", cantou acompanhado por Artur Paredes, e mais tarde, gravou acompanhado por António Portugal e José Afonso, que foram seus colegas de liceu em Coimbra, onde nasceu a 05 de janeiro de 1933.

Integrou o Orfeão de Coimbra, na categoria de barítono solista, tendo percorrido o Brasil integrado neste agrupamento. Participou aliás noutras formações académicas, nomeadamente o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, assim como na Tuna e no Coral da Faculdade de Letras.

Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra, em 1958, tendo nesta década formado o Coimbra Quintet, com os instrumentistas António Portugal, Jorge Godinho, Manuel Pepe e Levy Batista.

O disco "Serenata de Coimbra", que gravou em 1957, é "um dos álbuns mais vendidos da música portuguesa, em Portugal e no estrangeiro, contando com mais de 15 edições com capas diferentes", contou à Lusa o músico Manuel Alegre Portugal, também seu amigo.

Na ocasião, recordou Manuel Alegre Portugal, Luiz Goes recebeu um convite da discográfica Philips, que recusou, "tendo afirmado que queria antes terminar o curso".

Recrutado para o serviço militar, tendo sido destacado para a Guiné-Bissau no contexto da guerra colonial, terminou a aventura do Coimbra Quintet. Quando regressou, em 1966, Luiz Goes fixou residência em Lisboa, onde exerceu a profissão de Estomatologista até à reforma em 2003.

Em 2002, celebrou o 50. aniversário da carreira artística, tendo a discográfica EMI Music -- Valentim de Carvalho publicado a obra integral numa edição intitulada "Canções Para Quem Vier".

Além de ter gravado dezenas de fados, baladas e canções de Coimbra, como autor, Luiz Goes assinou 25 fados e 18 baladas, dos quais se destacam "Fado da Despedida", "Toada Beirã", "Balada da Distância", "Canção do Regresso", "Homem Só", "Meu Irmão", "Romagem à Lapa", "É Preciso Acreditar", entre muitos outros.

Luiz Goes é considerado um dos artistas portugueses mais internacionais. Entre as muitas digressões à Europa, África e Américas, destacam-se as suas atuações no Congresso da Cultura da Língua Portuguesa na Universidade de Georgetown, em Washington D.C., no aniversário das Nações Unidas, na Suíça, e na homenagem a Beethoven, na Áustria.

Participou em vários programas da RTP e também nas televisões do Brasil, Espanha, França, Suécia, Áustria, Estados Unidos e África do Sul.

No período anterior ao 25 de Abril de 1974, militou na oposição à ditadura de António de Oliveira Salazar e Marcello Caetano.

f Lusa, numa entrevista realizada em 2003, contou que muitas das canções que compunha "continham subliminares de oposição ao regime".

Da sua extensa discografia - no início da carreira, ainda gravou em 78 rotações -, refiram-se os álbuns "Coimbra de ontem e de hoje" (1966), "Coimbra do mar e da vida" (1969), "Canções de Amor e de Esperança" (1969) e "Canções para quase Todos" (1983).

Em 1998 foi editada uma biografia sua, "Luiz Goes de Ontem e de Hoje", de autoria de Carlos Carranca.

Defensor da "Canção Coimbrã, da balada, mas não fado", como sublinhou à Lusa, Luiz Goes, foi condecorado com a Ordem do Infante Dom Henrique, grau de Grande Oficial, a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra, a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Cascais e o Prémio Amália Rodrigues 2005, na categoria Fado de Coimbra
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