Morreu o cantor e compositor Charles Aznavour
O cantor e compositor Charles Aznavour morreu, esta noite, aos 94 anos, na sua casa de Alpilles, no Sul de França. Aznavour, autor de alguns dos êxitos de Edith Piaf, vendeu mais de 100 milhões de discos em 80 países. Também participou em 60 filmes. “Tive uma carreira inesperada mas exemplar”, resumiu à Agência France-Presse o autor e intérprete de “La Bohème” ou La Mamma”.
“Não sou velho, sou idoso. Não é o mesmo”, dizia Shahnourh Varinag Aznavourian, nascido em Paris, a 22 de maio de 1924. Filho de um casal de emigrantes arménio, um cantor e uma atriz que esperavam por um visto para os Estados Unidos, conservou ao longo da vida as ligações com a comunidade dos pais.
Por altura do 60º aniversário do genocídio arménio, em 1975, Aznavour escreve “Ils sont tombés” ("Eles caíram"). Em 1988, criou a fundação "Aznavour para a Arménia”, que a 7 de dezembro registou um sismo de 6,9 na Escala de Richter. Escreveu, para fins de solidariedade, a canção “Para ti Arménia”, interpretada por diversos músicos franceses.
Charles Aznavour atuou em dezembro de 2016, em Portugal, e escreveu um fado para Amália Rodrigues, "Aïe Mourrir pour toi", por quem confessara um profunda admiração e amizade.Nos últimos meses, Charles Aznavour teve de anular alguns concertos em consequência de uma crise de rins e de uma fratura do braço.
O cantor francês mais conhecido no estrangeiro tinha regressado de uma digressão pelo Japão. Tinha concertos agendados para Bruxelas, em outubro, e Paris, em novembro, seguido de uma pequena digressão por França.
O Presidente de França é um admirador do músico. De acordo com os colegas de curso, o jovem Emmanuel Macron era um competente intérprete dos maiores sucessos de Aznavour ao karaoke. O Presidente francês já lamentou a morte de Charles Aznavour.
Profondément français, attaché viscéralement à ses racines arméniennes, reconnu dans le monde entier, Charles Aznavour aura accompagné les joies et les peines de trois générations. Ses chefs-d’œuvre, son timbre, son rayonnement unique lui survivront longtemps.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) 1 de outubro de 2018
“Tive uma carreira inesperada mas exemplar”, declarou o último grande nome da canção francesa à Agência France-Presse, justificando ser “tudo uma questão de sorte”. Aznavour não refere, contudo, o talento e a persistência para impor os seus 1,65m e voz atípica – tinha sido chamado pela crítica de “Aznovoice” (“não tem voz”) – na indústria da música e do cinema.
Para Edith Piaf, que acompanhou ao piano durante oito anos, escreveu “Odeio os domingos”, entre outras canções. O tema foi rejeitado pela cantora, mas depois interpretado por Juliette Gréco.
O sucesso como intérprete para Aznavour só chegou em meados dos anos 50, com atuações na sala de concertos Olympia. Em 1963, apresenta-se no Carnegie Hall, em Nova Iorque, e inicia uma digressão mundial, atuando pela primeira vez na Arménia dos seus antepassados.
Carreira no cinema
Além da música, Aznavour tem uma carreira no cinema. Participa em mais de 60 filmes, incluindo “Disparem sobre o pianista”, de François Truffaut, “Os fantasmas do Chapeleiro”, de Claude Chabrol e “O Tambor”, de Volker Schlondorff.
Dá ainda corpo ao filósofo Naphta, na adaptação ao cinema do clássico da literatura “Montanha Mágica”, por Hans Geissendörfer.