Museu de Serralves apresenta obras inéditas de Anne Imhof com piscina em ferro negro
A escultura duma piscina negra de 20 metros de comprimento em ferro, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, é uma das obras em destaque na primeira exposição que a instituição do Porto apresenta da artista alemã Anne Imhof.
O Museu de Serralves inaugura hoje a exposição "Fun ist ein Stahlbad" ("Divertimento é um bem de aço"), da artista Anne Imhof, Leão de Ouro da Bienal de Veneza em 2017, e a peça central é uma escultura negra em forma de piscina, construída em ferro, sem água, e com cerca de 20 metros de comprimento, que está instalada no exterior no Pátio do Ulmeiro, ao lado no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto.
A ideia da artista terá surgido depois de Anne Imhof ter sido levada por Serralves a visitar as Piscinas de Marés de Leça da Palmeira, em Matosinhos (Porto), do arquiteto ÁLvaro Siza, revelou hoje Inês Grosso, curadora chefe do Museu de Serralves, durante a visita de imprensa à exposição.
"Nós fomos às piscinas [das Marés] do [arquiteto] Siza e logo, imediatamente depois, ela escreveu-me a dizer que adorava fazer uma piscina e começou-me a mandar os desenhos", recorda a curadora.
Inês Grosso recorda que também as piscinas de Álvaro Siza Vieira são públicas e revelam a ideia da "democratização do lazer" que vem dar mais robustez à ideia de diversão do título da exposição, mas uma diversão com disciplina de que falam os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer.
"O título da mostra retoma uma expressão de Adorno e Horkheimer em `Dialética do Esclarecimento` (1947), texto no qual os autores refletem sobre a forma como a ideia de diversão, transformada em produto, se entrelaça com mecanismos subtis de disciplina: uma tensão entre promessa e endurecimento que se reflete, de modo indireto, em toda a exposição".
A peça escultórica da piscina tem 1,80 metros de profundidade e funciona como "elemento estruturante da exposição", estabelecendo uma relação direta com o edifício desenhado por Álvaro Siza.
No trajeto da exposição podem também ver-se pinturas de grandes dimensões com ondas marítimas, nuvens e explosões, como obras em "vídeo que evocam sensações de abandono, a instabilidade do presente e a inquietação de um tempo atravessado pela crise ambiental e por formas difusas de mal-estar".
A exposição é uma "espécie de um manifesto da artista e uma síntese do trabalho da Anne Imhof", disse Inês Grosso, acrescentando que muitas das peças foram feitas especialmente para Serralves.
"São obras feitas para Serralves, produzidas com empresas no Norte em contacto permanente com o ateliê da artista e com o arquiteto Andrea Faraguna, que ganhou este ano o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura [de Veneza, como curador da mostra do Pavilhão do Bahrain], e que esteve envolvido no projeto", explicou, reconhecendo que as obras "monumentais" da piscina e da plataforma de saltos foram projetos "muito complexos", por serem estruturas de grandes dimensões que implica "várias equipas".
Questionada sobre o que está em causa nesta exposição, Inês Grosso destacou a palavra liberdade.
"Em causa está a ideia de liberdade. Eu acho que é um tema fundamental no trabalho da Anne. Liberdade dos corpos, liberdade de amar, liberdade até nas práticas artísticas de transitar entre diferentes meios, e a ideia do divertimento e da forma como o lazer e a diversão se têm vindo a transformar cada vez mais na reproduzir lógicas de trabalho e cada vez mais de nos disciplinar, mais do que nos fazer questionar e questionar uma série de aspetos da sociedade. É uma forma de nos silenciar também".
Anne Imhof (1978) tem desenvolvido uma prática singular que cruza performance, escultura, pintura, instalação e filme.
O seu trabalho examina relações de poder, controlo, espetacularização e saturação imagética em sistemas cada vez mais marcados pela vigilância e pela pressão social.
A exposição fica patente ao público até 19 de abril de 2026.