Museu recorda "figura marcante" na educação pela arte
A diretora do Museu da Marioneta, Ana Paula Correia, lamentou hoje a morte de Delphim Miranda, sublinhando o seu "papel fundamental" de divulgador da marioneta como instrumento mediador numa educação pela arte acessível a todos.
O professor, figurinista, pintor, criador de marionetas e contador de histórias Delphim Miranda morreu na quinta-feira, em Lisboa, aos 78 anos, anunciou na altura a companhia de Teatro e Marionetas de Mandrágora.
"É uma figura marcante na arte da marioneta em Portugal nos últimos 50 anos. Formou e partilhou os seus conhecimentos com múltiplos marionetistas, e fascinou centenas de pessoas com os seus espetáculos, com as suas histórias contadas através das marionetas", sublinhou a diretora do Museu da Marioneta, contactada pela agência Lusa.
Nascido em 17 de maio de 1947, em Lisboa, Delphim Miranda frequentou o curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes e começou por lecionar Educação Visual e Educação Visual e Tecnológica no ensino oficial, em 1971.
Ana Paula Correia recordou à Lusa que o artista tinha uma grande capacidade de levar as pessoas a gostar de teatro, de literatura e das artes em geral, através de histórias contadas por marionetas: "Ele compreendeu profundamente e usou o imenso poder da marioneta como mediadora das artes, trabalhando muito em prol de uma educação através das artes acessível a todos".
Delphim Miranda foi formador nas áreas de expressão plástica, fez cartoon, banda desenhada, cinema de animação, pintura, ilustração, intervenção artística, e acabou por se fixar no teatro - de marionetas, em particular -, como ator e como autor, trabalhando figurinos, adereços, cenografia.
Na temporada 2016-2017, o Museu da Marioneta, em Lisboa, dedicou uma exposição retrospetiva a Delphim Miranda, celebrando os seus 40 anos de carreira.
"Ele era um grande amigo do museu [da Marioneta] e visitava-nos todas as semanas", apontou ainda Ana Paula Correia, referindo que a instituição criou e divulgou um pequeno filme sobre o seu trabalho, inserido num projeto de pequenos vídeos sobre marionetistas intitulado "Mãos por um Fio".
Numa das salas do Museu há uma vitrine consagrada às marionetas de Delphim Miranda, com peças doadas pelo autor, sublinhou.
Ana Paula Correia salientou ainda que a atividade do autor "teve uma importância enorme, não só como criador de marionetas e marionetista, mas também como professor", pelas muitas pessoas que formou ao longo de décadas.
Delphim Miranda criou os seus próprios espetáculos, com histórias de sua autoria, em que contracenava com marionetas, destacando-se peças como "Por alguns contos de reis", "Queres que te conte outra vez?" e "A caixa dos bonecos".
Com estas produções, percorreu o país, participou em festivais de teatro, atuou em palcos de França, Espanha e Alemanha. Fez ainda parte do Programa de Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, expôs as suas obras e desenvolveu ações de formação com professores e animadores.
Como ator, sem marionetas, Delphim Miranda participou no filme "Requiem", de Alain Tanner, sobre o romance homónimo de António Tabucchi, desempenhando o papel do pintor copista.
Durante a Expo`98, fez parte do espetáculo diário "Peregrinação", ao volante de um dos `Peregrimóveis`.
O velório de Delphim Miranda, segundo fonte próxima da família, tem início às 16:00 de hoje, na Igreja do Santo Condestável, em Lisboa.
O corpo partirá dali para o crematório do Cemitério de Carnide, no sábado, às 11:00, onde a cremação se realizará às 12:00, no Edifício da Saudade.