Nova geração de escritores chineses é mais urbana e individualista, afirma Wang Anyi

Macau, China, 28 mar (Lusa) - A autora e presidente da Associação de Escritores de Xangai, Wang Anyi, considera que a nova geração chinesa, que se dedica à produção literária, se centra mais na vida das cidades e tem uma abordagem mais individualista.

Lusa /

"Os escritores mais jovens focam-se mais nas vidas urbanas, dão muita atenção à personalidade, muita importância à emoção individual e não se preocupam tanto com o que está à volta deles", afirmou Wang Anyi em entrevista à agência Lusa, durante a sua visita a Macau, onde participa no festival literário Rota das Letras.

Para a autora de "Baotown", os escritores nascidos depois do final dos anos 1970 cresceram num contexto "obviamente diferente", que se reflete na sua literatura. "Nasceram quando a economia levantou voo e os bens materiais da sociedade começaram a ser abundantes. Isso marca uma diferença forte neles", comenta.

No geral, no entanto, e apesar de admitir que têm "um olhar mais especial", entende que as consequências não são positivas, surgindo "poucos escritores excelentes" e verificando-se uma "tendência geral para o materialismo". "Acho que a situação da literatura atual é muito calma, não tem progresso", lamenta.

Na opinião de Wang Anyi, a "época de ouro" da literatura contemporânea chinesa deu-se nas décadas de 1980 e 1990, quando os escritores nascidos nos anos 1950 (como é o seu caso) e 1960 "amadureceram". Foi a época, diz, em que "o respeito individual estava em ascensão".

Nascida em 1954, Wang Anyi é uma filha da Revolução Cultural: aos 16 anos viu o seu percurso escolar interrompido e foi obrigada a abandonar Xangai, onde vivia, para trabalhar nos campos de uma comuna na empobrecida província de Anhui.

Foram dois anos de "solidão" e "vida precária". "Como tinha vivido em Xangai, a diferença entre campo e cidade era enorme", recordou à Lusa.

Durante esses anos nunca pensou em escrever, "porque a literatura exige muitas condições". Não pensava no futuro, mas, para se "abstrair do campo", imaginava o que poderia fazer a seguir, equacionando procurar emprego em fábricas. "Também pensei em frequentar a universidade mas, naquela época, não se entrava por exame, mas por recomendação", lamenta.

Acabou por fazer parte de um conjunto musical do Governo, na província de Jiangsu, uma opção comum para jovens que deixavam os campos.

Foi só em 1978, quando pôde regressar a Xangai, que começou a escrever, primeiro em revistas, depois, livros.

O reconhecimento internacional surgiu com "The Song of Everlasting Sorrow" (1995) ("A canção da tristeza eterna", em tradução livre), considerado pelo jornal The Guardian como "o Madame Bovary chinês".

A política nunca está no centro dos seus romances mas é frequentemente pano de fundo. Em "The Song of Everlasting Sorrow", o leitor observa como a sofisticada Xangai é afetada pela chegada do comunismo, com os delicados vestidos bordados a serem substituídos por fatos azuis "da libertação" e os saltos altos queimados em fogueiras.

"Nós, que tínhamos experiências de vida ricas e sofremos o corte da educação, começámos a escrever. A Revolução Cultural é o contexto do meu crescimento. A experiência, as personagens e o cenário dos meus romances não podem abstrair-se da minha vida", explica.

"Grieving over the Pacific Ocean" ("Angústia através do oceano Pacífico", em tradução livre), "Love in a small town" ("Amor numa pequena cidade"), "Brothers" ("Irmãos") são outras obras da escritora que, em 2011, foi escolhida para a lista de finalistas do Man Booker International Prize, do Reino Unido.

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