Novo livro de Ken Follett. RTP esteve na apresentação de "A Armadura da Luz"

por Rosário Salgueiro - RTP
Rosário Salgueiro

Faltava uma semana para terminar setembro quando Ken Follett se juntou a alguns jornalistas estrangeiros a exercer no Reino Unido. Aqueles a quem as redações chamam no quotidiano correspondentes internacionais. A jornalista da RTP Rosário Salgueiro foi a única portuguesa a poder estar presente.

O famoso escritor britânico, nascido em Cardiff, no País de Gales, queria apresentar-nos a nova obra: A Armadura da Luz. À entrada do clube inglês, no centro de Londres, onde decorreu a apresentação, Ken Follett apertava a mão de Bárbara Follett, a mulher, fonte de inspiração e principal critica. O destaque dado às personagens femininas é umas das características da receita de sucesso de Follett.

A ideia surgiu-lhe quando escrevia o primeiro grande êxito, O buraco da agulha, editado em 1978. No primeiro esboço, conta Follett, tinha um herói masculino. Descontente, deu volta às ideias e à história e depois confessa: “Ocorreu-me mudar o herói homem para uma mulher. Do ponto de vista literário, antes de tudo, foi uma excelente ideia. Tinha a certeza de que não havia um thriller com uma mulher heroína”.Na Armadura da Luz, as mulheres voltam a ter destaque na trama. O escritor regressa a Kingsbridge, para completar o quinto volume da saga centrada na vida das personagens da cidade inglesa que conhecemos, sobretudo, do best-seller Os Pilares da Terra.


O tempo do enredo, do suspense, deste novo livro é o da revolução industrial e das invasões napoleónicas. O leitor é envolvido nas “estórias” dos combatentes forçados a irem para a batalha de Waterloo, um lugar na atual Bélgica. Nas mais de 700 páginas há personagens para todos os gostos – vilões, vítimas, homens e mulheres à frente do seu tempo, ricos e pobres que se cruzam, que se amam e que se odeiam até à morte. As descrições são ricas sobre as máquinas e o modus vivendi do final do século XVIII.

Follett revela que a pesquisa para o livro foi intensa e surpreendente: “Tenho uma ideia e depois começo a ler livros, neste caso sobre a Revolução Industrial. Ao mesmo tempo que faço a pesquisa começo a fazer um draft. A pesquisa dá-me ideias para os cenários e para os momentos fortes. Por exemplo, uma das coisas que eu não sabia era sobre a revolta das donas de casa. E foi, claramente, material para todo um capítulo. A ideia leva-me à pesquisa. A pesquisa dá-me ideias. Neste caso da Armadura da Luz, a investigação dos factos históricos apresentou-me dois desafios: tive de compreender as máquinas da revolução industrial, de uma tecedeira, por exemplo, para a descrever como ela funciona realmente. E, claro, tive de compreender a batalha de Waterloo”.
Nesta conversa, o escritor de 74 anos revela que faz a própria pesquisa - “nunca me permito nenhuma liberdade com a história” - e para demonstrar o empenho na investigação trouxe um filme onde se mostra num museu de máquinas da revolução industrial, ainda a funcionar e percorreu o campo de batalha entre ingleses liderados pelo Duque de Wellington, também Marquês do Porto, que ajudados pelas tropas prussianas derrotaram os soldados franceses comandados por Napoleão.

Os muitos detalhes e ao mesmo com explicação simples são uma imposição dos leitores dos tempos dos écrans digitais, admite Follett, acrescentando que “são mais impacientes, têm de compreender porque um lado ganhou a batalha, como e porque o outra frente perdeu a guerra. Temos de explicar em termos simples. Qualquer livro sobre a batalha de Waterloo, ainda que ela só tenha durado um dia, é muito longo e complexo. Os regimentos, os confrontos, os nomes. Não quero que os leitores precisem de tomar notas quando estão a ler os meus livros. Quero, sim, que voltem uma página e depois outra e outra”.O escritor de best-sellers, que um dia foi jornalista - “não fui bom”, admite -, diz que os leitores ainda gostam de livros épicos.


A Armadura da Luz
é também mais uma demonstração da batalha pela liberdade que “é uma anomalia histórica. Ao longo dos tempos a maioria das pessoas viveu subjugada, sem direitos. Este livro é, por isso, uma batalha dos fracos contra os fortes, o que a torna uma boa história”.

Em resposta à RTP, Follett também diz que na batalha dos nossos tempos “o mais preocupante é o renascimento da extrema-direita. Não há nada de novo as pessoas quererem líderes autoritários, o que é novo é as pessoas votarem neles. Os turcos votaram para perder a sua liberdade. Acho muito preocupante. Noutros países, por exemplo, a Hungria, já não é uma verdadeira democracia. O Estado controla os media e se controlas os media controlas a forma como as pessoas pensam e a opinião das pessoas. Em França, a extrema-direita ganha terreno e com resultados surpreendentes nas eleições”.

Mostrando-se preocupado porque “a liberdade é conquistada com dificuldade e facilmente perdida” fala-nos, também, da cultura de cancelamento que manda destruir ou retirar estátuas do espaço público e alterar livros só porque não concordam com eles. “Pode ler nos meus livros, há pessoas que lutaram por estas liberdades, como a liberdade de expressão, morreram por elas e há agora estas pessoas que as querem tirar. É muito assustador”.

Otimista confesso, Ken Follett acredita que, como no passado, a liberdade vence sempre.
Tópicos
PUB