O cinema europeu à conquista da Grande Muralha

pequim, 26 Nov (Lusa) - A co-produção germano-luxemburguesa "A2 Racer" era a única longa-metragem europeia em exibição na semana passada em Pequim, capital de um país que anualmente importa apenas 40 filmes, a maioria norte-americanos.

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E quanto ao número de salas, o domínio de Hollywood era ainda mais esmagador: o último 007, "Quantum of solace", por exemplo, passava em 30 salas - mais 25 do que "A2 Racer" e mais, também, do que qualquer dos 13 filmes chineses em cartaz.

"Queremos corrigir este desequilíbrio (...) Globalização não quer dizer americanização", afirmou o embaixador francês em Pequim, Herve Ladsous, ao apresentar o 1.º Festival de Cinema da União Europeia na China, que começa segunda-feira com o filme português "Dot.com".

Até 20 de Dezembro serão exibidos 24 filmes de outros tantos países, entre os quais "La Môme", do francês Olivier Dahan, e "The Last King of Scotland", do britânico Kevin Macdonald.

A selecção teve em conta a "actualidade" e a "adesão do público" dos respectivos países, salientaram os organizadores.

"Não iremos mostrar filmes de vanguarda, só para cinéfilos", disse o embaixador da delegação da Comissão Europeia na China, Serge Abou.

Respondendo a um jornalista chinês sobre a alegada tendência dos cineastas europeus para "fazer filmes mais artísticos do que comerciais", Serge Abu afirmou: "Não temos um sistema para os inspirar, mas apenas para os apoiar".

"O princípio, na Europa, é que a criação artística é livre. Não temos meios para influenciar os artistas nem tencionamos ter", acrescentou.

Na China, a importação de filmes é monopólio de Estado e obedece a quotas: em 1994 eram apenas dez por ano, mas depois da entrada na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, passou para 20 e hoje está nos 40.

O primeiro James Bond no cinema, com Sean Connery no papel de 007, saiu em 1962. Nos ecrãs chineses, o famoso agente secreto britânico só se estreou em 2007, com "Casino Royal" - 0 21º filme da saga.

"O sistema comercial chinês não está a dar oportunidades suficientes ao cinema europeu (...) Cada vez se vêem mais filmes chineses na Europa, mas na China há um numero insuficiente de filmes europeus", salientou o embaixador francês.

"Em França, o ano passado, foram exibidos 30 filmes chineses e o panorama é mais ou menos o mesmo nos outros países da União Europeia", precisou o diplomata.

Um técnico ocidental que acompanha a actualidade audiovisual chinesa indicou à Agencia Lusa que, entre 01 de Janeiro de 2007 e 31 de Março de 2008, a China importou 44 filmes, 36 dos quais americanos.

Produtores europeus e norte-americanos enfrentam, contudo, um problema comum na China: a pirataria.

Quando o último James Bond estreou na China, no passado dia 05 de Novembro, surgiram logo cópias em DVD que se vendiam na rua por um euro (8,6 yuan) - muito mais barato do que ir ao cinema.

Ao fim de semana, um bilhete de cinema em Pequim custa 70 ou 80 yuan - o preço de uma boa refeição num restaurante médio.

Será também por isso que o número de salas de cinema na China não chega a 4.000 - dez vezes menos que nos Estados Unidos, por exemplo, que tem um quinto da população.

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