O exílio do encenador Augusto Boal em Portugal é tema de exposição no Museu do Aljube

O exílio português do encenador e dramaturgo brasileiro Augusto Boal, que decorreu de 1976 a 1978, é o tema de uma exposição a inaugurar no próximo dia 25 de Abril, no Museu do Aljube, em Lisboa.

Lusa /

A inauguração da exposição "Meus caros amigos -- Augusto Boal -- Cartas do exílio" integra-se na iniciativa "Os dias da memória", em que o museu vai abrir portas para receber objetos e testemunhos de resistentes à ditadura.

Numa ação em colaboração com o Instituto de História Contemporânea, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o museu prepara ainda um ciclo de cinema sobre a Revolução de Abril, em Paris.

Natural do Rio de Janeiro, onde nasceu a 16 de março de 1931, Augusto Boal foi um conceituado dramaturgo, criador do Teatro do Oprimido, que viveu em Lisboa, entre 1976 e 1978, durante o exílio imposto pela ditadura militar brasileira.

Em Portugal, dirigiu o grupo A Barraca, encenou a "Feira Portuguesa de Opinião" e desenvolveu várias formas experimentais de teatro emancipatório, como o fez noutros locais onde se fixou, como Buenos Aires e Paris.

Com curadoria do poeta brasileiro Eucanaã Ferraz, a exposição vai contar com cartas, fotos, cartazes, música e depoimentos em vídeo, entre outros testemunhos.

A exposição é uma iniciativa do Instituto Augusto Boal e do Museu do Aljube -- Resistência e Liberdade.

Com A Barraca, Augusto Boal montou "Barraca Conta Tiradentes", "Zumbi", um musical que contou com a participação de Sérgio Godinho e Francisco Fanhais, entre outros, "Ao Qu`isto chegou: Feira portuguesa de Opinião".

Ainda n`A Barraca, escreveu "Mulheres de Atenas", uma adaptação de "Lisístrata", de Aristófanes, com músicas de Chico Buarque.

Foi também na capital portuguesa que terminou "Murro em Ponta de Faca", drama iniciado ainda durante a estada anterior em Buenos Aires.

Em Portugal publicou "Duzentos exercícios e jogos para o actor e o não-actor com ganas de dizer algo através do teatro" (Cooperativa de Acção Cultural, 1978, e Vozes na Luta, 1977), "A tempestade" e "As mulheres de Atenas" (Plátano, 1979), "Técnicas latino-americanas de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário" (Centelha, 1977), "Milagre no Brasil" (Plátano, 1977) e "A deliciosa e sangrenta aventura latina de Jane Spitfire, espiã e mulher sensual" (Moraes Editores, 1977).

A inauguração da exposição patente no Museu do Aljube vai contar com a presença da atriz Maria do Céu Guerra, fundadora de A Barraca, que lerá um texto do dramaturgo, além da crítica de teatro Teresa Porto e do poeta Eucanaã Ferraz.

Augusto Boal morreu em 02 de maio de 2009, no Rio de Janeiro.

O exílio de Boal em Portugal ocorreu depois de o dramaturgo ter sido preso, em S. Paulo, quando estava à frente do Teatro Arena, que funcionava como um laboratório de artes, associado ao papel do teatro na libertação dos oprimidos.

O Teatro do Oprimido alia o teatro à ação social e entende o teatro como instrumento de emancipação política também nas áreas da educação, saúde mental e do sistema prisional.

"Teatro do oprimido e outras poéticas políticas" (Civilização Brasileira, 1977) é uma das obras-chaves do encenador e dramaturgo.

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