O poema de Eduardo Galeano sobre Eusébio

O consagrado autor uruguaio que hoje faleceu era conhecido, sobretudo, pelo seu clássico "As veias abertas da América Latina". Mas muito escreveu também sobre futebol e alguma coisa sobre um dos seus ídolos: Eusébio.

RTP /
Jorge Dan Lopez, Reuters

Quando Hugo Chávez ofereceu a Obama um exemplar de "As veias abertas ...", pode ter sido pela ironia do gesto ou pela esperança genuína de que o presidente norte-americano aprendesse alguma coisa sobre as responsabilidades dos Estados Unidos na situação desoladora do continente irmão.

O livro de Galeano seria sem dúvida o mais instrutivo sobre o tema, mas é duvidoso que alguém, e menos um presidente norte-americano, possa aprender, sobre um tema destes, alguma coisa em livros.

Quando Galeano escreveu, em prosa sóbria e enxuta, um verdadeiro poema sobre Eusébio, unia nele o conhecimento de jogador que chegou a ser quase profissional e a experiência de vida do latino-americano autor de "As veias abertas ...".  Do seu ângulo especial de observação, viu facetas do "Pantera negra" que o público português nem sempre terá visto.

Sobre Eusébio, disse Galeano: "Nasceu destinado a lustrar sapatos, vender amendoins ou roubar os incautos. Em criança, chamavam-lhe 'Ninguém': ninguém, nenhum".

A explicação do sucesso começou nessa infância desvalida: "Chegou aos estádios a correr como só pode correr alguém que foge da polícia ou da miséria que lhe morde os calcanhares".

Galeano lembrava também o paradoxo: "Foi um africano de Moçambique o melhor jogador de toda a história de Portugal. Eusébio: pernas altas, braços caídos, olhar triste".
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