O que se passa na política norte-americana é pior do que mostra o filme "Nos Idos de Março"

Lisboa, 06 nov (Lusa) -- O ator Paul Giamatti afirmou hoje que o que se passa na política norte-americana é "pior" do que mostra o filme "Nos Idos de Março", de George Clooney, em que interpreta um diretor de comunicação de uma campanha eleitoral.

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António Cotrim, Lusa

"Acho que [o que mostra o filme] é pior do que aquilo que é", afirmou o norte-americano no Centro de Congressos do Estoril, durante uma conversa com o público, depois da exibição na noite de sábado de "Nos Idos de Março", no âmbito do Lisbon & Estoril Film Festival.

O ator contou que quando viu o filme disse ao realizador, o também ator George Cloooney: "isto não está mau o suficiente, estas pessoas são piores". "E acho que são de facto", afirmou.

O argumento de "Nos Idos de Março" centra-se nos bastidores de uma campanha eleitoral das eleições primárias, no partido Democrata, das presidenciais dos Estados Unidos da América (EUA).

Para Paul Giamtti, o filme traça um retrato "muito realista do que se passa" na realidade.

"Nos EUA, muitas críticas [ao filme] referiram `isto é maçador. Porque é que estamos a ver estes imbecis a fazerem de imbecis? Todos sabemos que eles são assim`. Por um lado, [o filme] é tão realista que as pessoas pensaram `porquê? Porquê mostrar isto?`", disse.

Mas, segundo o ator, o filme extravasa a temática da política. "Quando li o argumento a primeira vez e quando vi o filme, conclui que [a história] podia passar-se em muitos outros ambientes", referiu.

O ator considera que fazendo um estudo das personagens se percebe que o filme é "sobre a entrada no mundo dos adultos".

"E é um retrato muito negro do que é alguém tornar-se num adulto. Porque os adultos sou eu, o Phil [Phillip Seymour Hoffman] e o [George] Clooney e as crianças são ele [Ryan Gosling] e ela [Evan Rachel Wood]. Ela morre e ele torna-se pior do que eu", defendeu, acrescentando que "crescer é muito mau".

Visivelmente descontraído, Paul Giamatti foi respondendo a várias perguntas sobre como foi trabalhar com George Clooney, como se prepara para as personagens ou qual o papel que mais gostou de desempenhar ao longo da carreira.

Do cinema português assumiu saber muito pouco. "Ouvi dizer que são ótimos [os filmes portugueses]", disse, para logo de seguida acrescentar que é "um ignorante".

"Não ouvi falar muito é a resposta honesta, mas é um problema meu que sou ignorante", assumiu.

Quando se fala em vinhos nacionais, o conhecimento é outro. "O vinho é muito bom. Se os filmes forem como o vinho vão conquistar o mundo num ápice", afirmou.

O ator arrancou por diversas vezes gargalhadas da plateia com piadas e tiradas irónicas sobre assuntos mais e menos sérios.

Na cerca de uma hora que esteve à conversa com o público, houve também espaço para falar da crise económica mundial, e de como esta está a afetar Hollywood.

"Fazem-se muito menos filmes. Eu já produzi pequenos filmes independentes e já não podes fazê-los, se os fizeres tens que ter o George Clooney. Agora só fazem filmes de robots e comédias de grande orçamento. É isso que podem esperar da América", disse.

Contudo, Paul Giamatti refere também "as novas tecnologias" como um dos fatores para que se façam cada vez menos filmes.

O ator irá participar hoje numa outra conversa com o público, também no Centro de Congressos do Estoril, mas desta vez acompanhado da atriz Sarah Gadon e do realizador David Cronenberg, com quem trabalhou em "Cosmopolis".

A organização do festival anunciou que antes da conversa serão reveladas em estreia mundial as primeiras imagens do filme, co-produzido por Paulo Branco, e que deverá estrear no próximo ano.

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