"O Riso e a Faca" de Pedro Pinho propõe uma reflexão sobre a Guiné-Bissau e o Sul Global

O filme "O Riso e a Faca", do realizador português Pedro Pinho, estreia-se hoje em Portugal, propondo uma reflexão crítica sobre a representação do Sul Global, um olhar político, humano e otimista sobre a Guiné-Bissau, e a identidade europeia.

Lusa /

Em declarações à agência Lusa, o cineasta Pedro Pinho explicou que a sua segunda longa-metragem de ficção, uma coprodução entre Portugal, Brasil, França e Roménia, "não serve necessariamente para criticar, mas para levantar questões e problemas", sublinhando a intenção de promover debates políticos e questionar o desequilíbrio na representação mediática europeia sobre o Sul Global.

"Espero que gere uma capacidade de aceder a perspetivas das pessoas que entram nos filmes e às perspetivas que estão presentes em todas as discussões do filme, que são perspetivas que não estão necessariamente muito representadas no panorama mediático europeu", sublinhou o realizador, acrescentando que está convencido da existência de "um profundo desequilíbrio e um problema muito grave do ponto de vista da representação, do discurso e da diversidade do discurso na cena pública".

Pedro Pinho denunciou que "todos os canais de produção de discurso estão nas mãos de uma elite, que tem uma agenda própria, que não é necessariamente a agenda da diversidade, reflexão e igualdade".

Com "O Riso e a Faca", filme realizado em África, em concreto na Guiné-Bissau, o realizador espera estimular novas formas de olhar o mundo e a Europa.

"Eu espero que o filme também possa acrescentar outras perspetivas aos problemas que nos afetam diariamente e que a experiência do filme possa contribuir para uma reflexão sobre o que é ser europeu, o que é Europa, o papel da Europa no mundo, o papel dos europeus e da presença europeia e ocidental nesses territórios, como a Guiné-Bissau", destacou.

Questionado sobre se `o riso` é um mecanismo de resistência aos problemas sociais e políticos da Guiné-Bissau, o cineasta concordou e refutou a visão de que o país lusófono é apenas um lugar de miséria e desgraça.

"A Guiné-Bissau (...) motiva-me todo o tipo de sentimentos, menos esses", disse Pedro Pinho, destacando que "há uma luminosidade, uma humanidade e uma relação com a resistência a todos os níveis".

O cineasta criticou também a "filtragem que é feita pelos meios de comunicação europeus", referindo que "tudo o que não é Europa, é miséria, desgraça, guerra e fome". Na sua perspetiva, esta "é uma visão empobrecedora, muito colonial e muito racista".

"Acho que a Guiné-Bissau é um país cheio de futuro, com muitas juventudes, muito potentes, muito capazes, com uma capacidade de autonomização das comunidades absolutamente singular, uma capacidade de resistência das comunidades absolutamente singular e, portanto, são todas as razões para o otimismo", conclui.

"O Riso e a Faca", de Pedro Pinho, com Sérgio Coragem, Cléo Diára e Jonathan Guilherme no elenco, estreou-se em maio no Festival de Cinema de Cannes, em França, valendo à atriz um prémio de representação na secção "Un Certain Regard".

O filme segue a história de Sérgio, "um engenheiro ambiental que viaja para uma metrópole da África Ocidental", a fim de trabalhar "numa organização não-governamental na construção de uma estrada entre o deserto e a selva", lê-se na sinopse divulgada pela produtora Uma Pedra no Sapato, que coproduziu juntamente com a Terratreme Filmes, coletivo de produção cofundado por Pedro Pinho.

Na narrativa, Sérgio "envolve-se numa relação íntima, mas desequilibrada, com dois habitantes da cidade, Diara e Gui. À medida que se adentra nas dinâmicas neocoloniais da comunidade de expatriados, esse laço frágil torna-se o seu único refúgio perante a solidão ou a barbárie", refere a sinopse.

A longa-metragem é candidata aos Goya 2026 - prémios espanhóis de cinema - de melhor filme europeu e candidata a uma nomeação para os prémios europeus de cinema de 2026 da Academia Europeia de Cinema.

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