Lisboa, 13 mar (Lusa) -- O escritor Mia Couto, que presidiu ao júri da primeira edição do Prémio Literário Eduardo Costley-White, realçou hoje o "cunho mais ousado" e a "inteligência" do romance "Rabhia", de Lucílio Manjate, que o levou a arrecadar o galardão.
"Há aqui um cunho mais ousado, e o uso de uma inteligência neste livro, que faz de uma história aparentemente policial - a natureza da escrita sugere uma história policial -, mas o que ele faz é percorrer aquilo que são as entranhas de uma sociedade como é a moçambicana, mas que podia ser do mundo inteiro", afirmou Mia Couto.
Referindo-se ao livro, hoje, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), durante a entrega do prémio, Mia Couto afirmou: "Há ali uma história que é profundamente humana, que é contada de uma maneira muito, muito original. A originalidade e aquilo que é uma escrita de caráter único, foi o que nos ajudou a distinguir" a obra.
Para o escritor, o grande destaque é esta obra apresentar "uma escrita de rutura, uma forma nova".
Mia Couto afirmou que a "poesia é absolutamente dominante em Moçambique e a nova geração prossegue essa tradição, mas este livro é diferente".
"Foi surpreendente, um jovem com esta qualidade, por via da prosa, já não falar dos temas que são constantes e mais saturados da literatura moçambicana", declarou Mia Couto.
A professora catedrática Ana Oliveira, que fez parte do júri, em representação das Edições Esgotadas, que vão publicar "Rabhia", referiu-se a Lucílio Manjate, de 32 anos, como "um poeta obcecado pela palavra ao detalhe" e disse que "Moçambique está todo refletido" nesta obra.
O escritor premiado, por seu lado, disse que dedicou o livro à mulher e aos dois filhos, e que este galardão, atribuído pela primeira vez, dedicou-o "a anónimos" que são os "heróis contra a guerra, os heróis contra a fome, os heróis contra o terrorismo, os heróis contra o analfabetismo, contra a incultura, contra a intolerância e o desamor, gente anónima que constroi, com humildade, na sua jornada diária, Moçambique, uma África e um mundo melhor".
Além de Mia Couto, que presidiu, e Ana Oliveira, constituíram o júri José Riço Direitinho, Isabel Lucas e Clara Ferreira Alves.
Na cerimónia de hoje, o filho mais velho do poeta Eduardo Costley-White, Sandro White, afirmou que a família irá preservar todo o seu espólio e tudo fazer para publicar os inéditos existentes.
A FLAD organiza o prémio em parceria com a editora Edições Esgotadas, o vencedor recebe dez mil euros e vê o seu livro publicado.
"Além do aprofundamento da relação entre Portugal e os Estados Unidos, a FLAD aposta na cooperação com os países africanos de língua portuguesa. Este prémio vem mostrar esse empenho, em especial através da difusão da lusofonia, da língua portuguesa e da promoção de novos talentos literários", disse hoje o presidente da FLAD, Vasco Rato, que realçou o facto de, na sua instituição, há 30 anos, ter optado pela inclusão do gentílico luso, numa clara alusão ao espaço da Língua Portuguesa.
"A FLAD jamais se limitou a aprofundar a relação bilateral entre Portugal e os Estados Unidos, com efeito o reforço das relações de Portugal com África constitui, desde sempre, um pilar estruturante da nossa atuação", disse Vasco Rato.
Segundo o responsável, "difundir a língua portuguesa e exaltar os autores que a utilizam para criar, foi um dos grandes objetivos que pautaram o lançamento deste prémio".
Sobre a obra vencedora qualificou-a como "excecional", destacando que "expressa exemplarmente a criatividade dos escritores africanos e a sua riqueza artística, que encontramos nesta casa comum, que é a nossa língua".
Um total de 34 escritores de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe candidatou-se à primeira edição do Prémio Literário Eduardo Costley-White, que promove novos talentos africanos de língua portuguesa.