"Obra incontornável, mas pouco conhecida"

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Lisboa, 10 Dez (Lusa) - Manoel de Oliveira é um cineasta incontornável no cinema português, mas falta em Portugal uma política de cinema consistente que dê a conhecer a obra de autores como ele, disse à agência Lusa o investigador António Preto.

"Estou convencido que o interesse do público em geral reside mais na figura do Manoel de Oliveira, uma figura carismática, com uma longevidade extraordinária, com uma energia fora do comum, do que propriamente na valorização do trabalho dele como cineasta", opinou António Preto.

Este investigador, que está a fazer um doutoramento sobre a relação entre texto e imagem na obra de Oliveira, sustenta que esse desconhecimento do cinema do autor de "Aniki Bobó" provém da escassa exibição dos seus filmes.

"Falta uma política de cinema consistente que permita o conhecimento da obra de grandes cineastas como Manoel de Oliveira. É possível ver de vez em quando filmes de Manoel de Oliveira em Lisboa - a Cinemateca programa o Manoel de Oliveira -, mas no resto do país, no Porto, por exemplo, é extremamente difícil ver os seus filmes", disse.

Da cinematografia de Manoel de Oliveira, António Preto sublinha "os momentos de ruptura que estão em plena concordância com aquilo que se discute no cinema em termos internacionais" e refere as influências de realizadores como Walter Ruttman, Carl Dreyer e Luis Buñuel.

"Douro, faina fluvial" (1931), primeiro filme de Manoel de Oliveira, é, no entender de António Preto, "um filme de vanguarda absolutamente experimental e que introduz de alguma forma o modernismo cinematográfico em Portugal".

"Amor de Perdição" (1978) representa outro momento essencial na obra de Oliveira, pela relação entre cinema e literatura, com uma adaptação da obra homónima de Camilo Castelo Branco.

É um momento em que o cinema "se define como uma arte impura e que vai beber às outras formas artísticas. O cinema é devedor da literatura, da pintura, do teatro e há uma confluência de disciplinas, de forma de encarar e representar a realidade", opinou.

Já "Vale Abraão" é "o clássico de Manoel de Oliveira, é um filme hipercodificado, é um filme que toca o sublime", disse António Preto, sublinhando ser "um privilégio poder continuar a receber os filmes de Manoel de Oliveira", que completa cem anos na quinta-feira.

Para António Preto, o realizador Pedro Costa "será talvez o único cineasta português que neste momento segue de alguma maneira as pisadas do cinema de Manoel de Oliveira, como segue também as pisadas de outros dois enormes cineastas esquecidos que são o António Reis e a Margarida Cordeiro".

Apesar de algumas excepções, o investigador, autor do livro "Manoel de Oliveira - o cinema inventado à letra", lamentou que o actual cinema português esteja a "alinhar por um estilo internacional de uma forma mais ou menos acrítica".

SS.


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