Obras de restauro da Igreja de Santa Clara no Porto com visitas a partir de janeiro

por Lusa

A Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) vai promover a partir de janeiro visitas guiadas às obras de conservação e restauro da Igreja de Santa Clara do Porto, cuja conclusão é apontada para o final de 2020.

O anúncio foi feito pelo diretor regional de Cultura do Norte, António Ponte, numa visita de imprensa à segunda fase da intervenção de conservação e restauro daquela igreja, classificada como monumento nacional.

"O que se pretende no fundo é fazer uma visita muito próxima daquela que nós fizemos hoje para poder mostrar aos cidadãos a diferença (...) entre o estado de conservação antes e depois da obra concluída", explicou.

Para aquele responsável, esta iniciativa vai permitir fomentar um sentimento de "pertença" na comunidade, construído não só pelo processo de valorização física e infraestrutural, mas também pela apropriação da igreja como "peça essencial da dinâmica quotidiana".

"A partir do início do próximo ano apresentaremos as datas mensais de visita à obra. Será uma visita por mês para um grupo restrito de pessoas que se inscreverão na Direção Regional de Cultura do Norte, porque como percebem por razões de segurança e funcionalidade tem de ser um grupo bastante restrito", anunciou, acrescentando que as visitas ao local serão feitas por ordem de inscrição.

Situada paredes meias com a atual sede do Comando Metropolitano do PSP, no Largo 1º de Dezembro, que chegou a fazer parte do antigo Convento de Santa Clara, a igreja apresentava graves problemas de conservação, resultantes particularmente do mau estado do edifício que sofreu uma infestação de térmita que colocou em risco não só o seu espólio como elementos estruturais em suporte de madeira.

Em declarações no final da visita, a secretária de Estado Adjunta e do Património, Ângela Ferreira, reconheceu que "durante muitos anos houve dificuldade em fazer grandes obras estruturais de reabilitação do património", mas sublinhou o empenho do governo em devolver o património cultural às populações, "tornado mais visitável e com mais programação".

"A verdade é que só em 2019 o Estado, em conjunto com a União Europeia, investiu cerca de 21 milhões [de euros] em reabilitação do património", disse, sublinhando que em causa estão "operações financeiras muito pesadas, como é o caso desta, não só na sua execução como na sua preparação".

Segundo a governante, esta operação é, aliás, um exemplo de parceria entre o estado e a sociedade civil, a replicar em outros monumentos nacionais.

A obra de restauro e conservação da Igreja Santa Clara do Porto implicou um investimento global de cerca de 2,4 milhões de euros, um dos maiores do país, em parte comparticipado pelos fundos comunitários e complementado por dois mecenas: A Irmandade dos Clérigos e a Fundação Millennium BCP.

O imóvel, considerado um exemplar singular, está a ser acompanhado por parte da Direção Regional de Cultura do Norte desde 2008, contudo, os primeiros trabalhos avançaram apenas em 2014-2015.

"São dez anos desde que começamos a vir com alguma regularidade, e com alguma frustração fomos percebendo que a igreja se degradava sem termos meios para levar acabo uma efetiva proteção", explicou o arquiteto Jorge da Costa que integra a equipa que está a promover a conservação da igreja.

"Imaginem o que é uma igreja forrada a madeira, estar lentamente a ser consumida pelo tempo e pelos bichos", disse, descrevendo o "estado degradação extrema" em que encontraram aquele património quando da primeira intervenção.

Os números confirmam aliás o mau estado de conservação da igreja onde cerca de 70% dos trabalhos foram de restauro e conservação.

"Mais do que uma herança do passado, é sobretudo uma escolha que queremos fazer para o futuro. E a escolha que nós fizemos, que estamos a fazer neste momento e que queremos prosseguir é de facto prolongar esta património para o futuro",

Localizada no centro histórico do Porto classificado como Património da Humanidade reconhecido pela UNESCO, desde 1996, a Igreja de Santa Clara é para muitos "uma espécie de joia escondida", que em já em 1758 a descreviam como "a mais perfeita e aseada deste Reyno, toda coberta de talha de ouro e azul".

Considero um dos melhores exemplares do barroco joanino, aquele monumento "constitui um legado artístico notável, integrando na sua arquitetura talha, escultura, azulejo, pintura mural, de cavalete e património musical".

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