Obras-primas de Picasso, Pollock e Warhol. Coleção de museu em Teerão mantida em cofre

por Carla Quirino - RTP
Mural de Jackson Pollock Coleção do Tehran Museum for Contemporary Art

Entre as obras da coleção do Museu de Arte Contemporânea de Teerão estão artistas como Jackson Pollock, Pablo Picasso, Vincent Van Gogh ou Andy Warhol. A coleção, pouco divulgada, está avaliada em 2,9 mil milhões de euros. Grande parte deste acervo foi comprada por Farah Pahlavi, a mulher do último Xá do Irão, na década de 1970.

Do Expressionismo Abstrato à Pop Art, a coleção do Museu de Arte Contemporânea de Teerão serve como uma cápsula do tempo de movimentos artísticos fundamentais apresentando-se como um guardião improvável das obras-primas de arte moderna no coração de Teerão.

A coleção avaliada em quase três mil milhões de euros é apontada como uma das mais raras do mundo e é quase invisível fora do Irão. Foi constituída durante o reinado do Xá do Irão, Mohammad Reza Pahlavi, e sua esposa, a imperatriz Farah Pahlavi, durante os anos 70.

As obras eram de propriedade de algumas fugiras famosas e terão vendido a Pahlavi diversos trabalhos de Pablo Picasso, Claude Monet, Jackson Pollock e Andy Warhol.

Sob o patrocínio de Pahlavi e para guardar as coleções de arte, foi construído o museu de Arte, em 1977. O seu primo, o arquiteto Kamran Diba, projetou o edifício | Museu de Arte Contemporânea de Teerão

Após a Revolução Islâmica de 1979, a coleção foi escondida pelo o novo regime dos clérigos xiitas, ao encontrar muitas das peças consideradas “demasiado ocidentais ou culturalmente inadequadas”.Para evitar afrontar os valores islâmicos as obras de arte ficaram intocadas durante décadas no cofre do museu.

Acredita-se que o acervo esteja completo, embora exista uma impressão de Andy Warhol que retrata a antiga imperatriz Farah Pahlavi, que foi  cortada durante a revolução.

O Governo do Irão luta há muito contra alguns símbolos ocidentais como as bonecas Barbie e representações de personagens de desenhos animados de “Os Simpsons”. Tais influências ocidentais foram consideradas anti-islâmicas no passado e foram interpretadas como uma guerra cultural “suave” contra a República Islâmica.

Atualmente, apesar do aumento das tensões com os EUA e pressionado com as sanções ocidentais, o Irão e as autoridades do museu conseguiram defender a manutenção da coleção e organizaram uma exposição para exibir parcialmente a coleção.

Inaugurada em outubro de 2024, “Eye to Eye” viu a data do terminus adiada duas vezes devido à afluência esmagadora. Quando fechou portas, no fim de janeiro deste ano, regressou ao cofre. Porém, a exposição revelou-se a mostra com maior sucesso do museu.

Entre os visitantes estiveram muitas mulheres que desafiaram a lei do uso obrigatório do lenço que cobre o cabelo. A repressão relacionada com o vestuário diminuiu, alegadamente, após as presidenciais de julho, que elegeram o reformista Masoud Pezeshkian.
“Eye to Eye” conquistou os visitantes
A inauguração da exposição “Eye to Eye”, em 2024,  atraiu inúmeras mulheres, com os cabelos descobertos, para as galerias subterrâneas do museu de Arte Contemporânea, localizado no Parque Laleh de Teerão.

Aida Zarrin, uma jovem que visitou a exposição, decreve o que sentiu: "Eu simplesmente não consigo acreditar que estou a ver essas obras, que sempre foram mantidas longe de nossos olhos. Se tais eventos são realizados aqui e podemos ver as obras de arte como em outros países, isso já é bom. Estas obras de arte são realmente preciosas".

Um retrato do aiatola Ruhollah Khomeini colocado de frente da obra do falecido artista Francis Bacon, Two Figures | Museu de Arte Contemporânea de Teerão

“Muitos dos testemunhos são importantes obras na história da arte e é por isso que esta mostra se distingue das outras”, afirmou Jamal Arabzadeh, curador da exposição. “Muitas pessoas com menos ligação à arte descobriram o museu pela primeira vez. Estamos a ver uma parte da comunidade que está a descobrir arte e o museu", realçou.

Cerca de 120 trabalhos fizeram parte da mostra. Pablo Picasso, Andy Warhol e Francis Bacon, juntamente com alguns artistas iranianos contribuiram para o sucesso da exposição "Eye to Eye".


"A mulher que chora", 1937, obra de Pablo Picasso |  Museu de Arte Contemporânea de Teerão

A exposição apanhou muitos visitantes de surpresa, pois não faziam ideia da existência da coleção. “Isto é muito atraente para os entusiastas da arte, porque nem todos podem ir ver museus no estrangeiro. É extremamente emocionante ver as obras aqui, no Irão”, disse uma mulher incrédula: “Eu não tinha ideia de que podia ver obras de Van Gogh e Picasso em Teerão”.

Uma das obras de Warhol que sobressaíram nas paredes subterrâneas foi a serigrafia "Jacqueline Kennedy II", que retrata a ex-primeira-dama dos EUA de luto após o assassinato do antigo presidente Kennedy.
 
Duas funcionárias do Museu de Arte Contemporânea de Teerão (TMOCA) examinam retratos de Mick Jagger criados por Andy Warhol na cave do museu | Museu de Arte Contemporânea de Teerão

Da Pop Art do artista norte-americano também se destacou a imagem do vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger. De acordo com o canal CNBC, Jagger foi quem mais atraiu a atenção dos visitantes e dos telemóveis.
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