Obras revelam construção "notável" do Templo Romano de Évora

por Lusa

Évora, 26 jun (Lusa) -- A intervenção de conservação e estudo realizada no Templo Romano de Évora, no ano passado, foi "pioneira" e permitiu perceber a "qualidade construtiva absolutamente notável" do monumento, disse hoje a diretora regional de Cultura do Alentejo.

Segundo Ana Paula Amendoeira, que falava aos jornalistas, em Évora, o templo romano, do século I depois de Cristo (d.C.), único no país e um dos mais notáveis da Península Ibérica, "nunca tinha tido" qualquer "intervenção de conservação".

"É uma intervenção pioneira porque desde o século XIX que não havia intervenções no templo" e, a realizada nessa altura, "não foi de conservação, foi de restauro", para "libertar" o monumento, que "tinha outras funções", da "alvenaria que preenchia os vãos das colunas".

Os trabalhos efetuados no ano passado, lembrou a diretora regional de Cultura, deveram-se ao facto de terem sido detetados "problemas de desagregação de alguns fragmentos de um dos capitéis do templo".

"O que nos obrigou a fazer a intervenção com maior celeridade para evitar que houvesse um decaimento da pedra e que se perdessem alguns fragmentos" da estrutura, o que, de facto, "não aconteceu", porque, "mesmo aqueles que se desagregaram, foram repostos e consolidados", realçou.

A diretora regional de Cultura do Alentejo falava aos jornalistas à margem de uma jornada para apresentação destes trabalhos de conservação e de investigação desenvolvidos no templo, entre agosto e dezembro do ano passado.

As obras, que custaram "cerca de 50 mil euros", foram promovidas pela Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), em articulação com a Câmara de Évora, e adjudicadas a uma empresa especializada na conservação e restauro, contando ainda com o envolvimento das universidades de Évora, através do Laboratório HERCULES, de Coimbra e do Minho.

A intervenção de conservação, considerada "urgente", na altura, devido ao "risco iminente e muito alto" da queda de fragmentos de pedra, permitiu "conhecer muito melhor o monumento", assinalou hoje a diretora regional de Cultura.

"Não só se fez a intervenção de consolidação, que era muito importante, mas também o estudo e o levantamento do monumento, que não existia", porque, até à data, o monumento tinha era "sido objeto de investigação arqueológica, nos anos 80 e 90" do século passado, disse.

Os trabalhos agora realizados, inclusive com recurso a tecnologias em três dimensões (3D), destacou Ana Paula Amendoeira, permitiram "perceber a arquitetura do monumento", que tem "uma qualidade construtiva absolutamente notável".

O templo, que "estava todo cinzento, devido à sujidade e à poluição", também se apresenta agora limpo e com "uma nova imagem", o que possibilita a observação de que "os materiais são diferentes", com capitéis em mármore branco, fustes das colunas em granito e bases também em mármore.

Com os trabalhos, acrescentou, foram ainda consolidados "mais alguns fragmentos que estavam há muito tempo no Museu de Évora e dos quais ainda não se tinha feito o estudo", com os investigadores a concluírem que "pertenciam ao templo", ao qual foram devolvidos.

As obras, "pequenas do ponto de vista do volume financeiro, mas muito importantes" para a conservação do monumento, deram-lhe "uma integridade um pouco maior" do que a que tinha, mas o templo requer ainda "mais intervenção" no futuro, alertou a responsável.

Na jornada de hoje, foi também apresentada a obra monográfica, de Theodor Hauschild e Felix Teichner, editada no ano passado pelo Instituto Arqueológico Alemão, com os resultados dos trabalhos arqueológicos realizados na zona do templo romano, nos anos 90, que vai, em breve, ser editada em português.

Com dois mil anos, o Templo Romano de Évora é monumento nacional e está abrangido pela classificação do centro histórico da cidade como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

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