O que de mais avançado foi feito no mundo em matéria de ópera digital é revelado pela primeira vez em Portugal no sábado, em Leiria, no encerramento de "Ópera na Prisão - Traction", garantiu hoje o coordenador do projeto.
"Ópera na Prisão - Traction" revela em Leiria vanguarda da ópera digital
Desenvolvido nos últimos dois anos, "Traction" envolveu nove participantes de cinco países, com destaque para as companhias de ópera Liceu de Barcelona, de Espanha, e Irish National Opera, de Dublin, na Irlanda, e a Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), de Portugal.
No sábado, no Teatro José Lúcio da Silva, é apresentado o documentário que conta a história do processo, reclusos, famílias e músicos vão partilhar experiências e será possível assistir, com recurso a ferramentas de realidade virtual desenvolvidas para "Traction", a excertos do espetáculo "O tempo (somos nós"), e também a "Out of the ordinary", ópera concebida na Irlanda.
"O que vamos ter aqui em Leiria é o mais avançado que foi feito ao nível da ópera digital. É o topo dos topos. Vai ser um momento histórico, porque só houve duas apresentações, na Irlanda e em Barcelona", explicou à agência Lusa Paulo Lameiro.
Por um lado, a tecnologia recordará o espetáculo estreado em junho no Estabelecimento Prisional de Leiria - Jovens.
"Com os óculos de realidade virtual vai ser possível ver o que fizemos e estar dentro da prisão, escolhendo se se quer olhar para a orquestra, os artistas ou, até, para o público".
Antes e depois da cerimónia de sábado, que começa às 16:00, também será possível ver a ópera irlandesa, totalmente desenvolvida digitalmente, com duração de 20 minutos e dois finais, "em função de onde se estiver a olhar: se for para um personagem tem um fim; se estiver a olhar para outro, o fim segue para outro lado", descreveu o coordenador de "Traction".
"Queremos oferecer um pouquinho do resultado deste projeto", frisou Paulo Lameiro, porque "um dos caminhos da ópera poderá ser este".
Segundo o coordenador de "Ópera na Prisão", a experiência virtual desenvolvida na Irlanda é pensada "para quem faz jogos de realidade virtual".
"Esta é também uma forma de chegar a outro público", contrariando ideias feitas sobre a ópera, como as de "serem histórias do passado" ou que "é cara e elitista".
"As pessoas falam de ópera sem nunca terem ido à ópera. Quando muito viram na televisão ou no Teatro José Lúcio da Silva [em Leiria] e pensam que foram à ópera, o que não é verdade, porque é o mesmo que ver um jogo de futebol na rua", exemplificou.
"Por isso é que as tecnologias e a realidade virtual propiciam outra forma de estar, num canal mais acessível, abrindo portas ao género ópera para se desenvolver por outros caminhos", notou Paulo Lameiro.
É essa "forma totalmente nova de fazer ópera e ligar a comunidade" que a SAMP quer mostrar no sábado em Leiria, explorando a solução tecnológica que permite "ter em palco reclusos que até aqui não podiam sair [da prisão] em palco com outros que podem sair".
Com "Traction", "Ópera na Prisão" atingiu o nível mais alto de sempre.
"Jamais estava na nossa mente fazer um projeto desta natureza e irmos ao Liceu de Barcelona, sermos considerados um parceiro de igual para igual, e perguntarem-nos, a nós, SAMP, como se deve fazer um projeto com impacto social, utilizando a ópera para uma comunidade de pessoas que não tem qualquer contacto com a ópera", admitiu Paulo Lameiro.
Este virar de página sobre dois anos de trabalho é acompanhado pelo arranque da nova fase de "Ópera na Prisão", "Mozart ON", que vai desenvolver-se até 2025 e abrir à comunidade as portas do Pavilhão Mozart, construído no coração do Estabelecimento Prisional de Leiria - Jovens.
A intenção é desenvolver três projetos mais pequenos por ano, em vez de uma grande ópera e, a partir de 2023, abrir à cidade de Leiria o Pavilhão Mozart.
"Temos de ir ao Pavilhão Mozart como quem vai ao Teatro Miguel Franco [no centro de Leiria]. Já vamos ter isso em 2023, já haverá bilheteira e espetáculos abertos no Pavilhão Mozart, para o público assistir dentro da prisão", prometeu Paulo Lameiro.