Padre António Morão homenageado no Fundão com criação de encontro literário

O centenário do padre António Morão vai ser assinalado com a promoção, nos dias 14 e 15 de junho, na Orca, aldeia do Fundão onde foi pároco, a primeira edição do Ecos -- Encontros Literários com a Comunidade.

Lusa /

O padre, que morreu em 1997, aos 71 anos, foi capelão militar em Angola durante a guerra colonial, foi militante antifascista, membro da Comissão Regional de Socorro aos Presos Políticos de Castelo Branco, integrou a Comissão Nacional do 3.º Congresso da Oposição Democrática, foi professor e chefe de redação do Jornal do Fundão e "inspirou muita gente", sublinhou a organização.

Em declarações à agência Lusa, Marco Marques, um dos dinamizadores da iniciativa, realçou que o evento "tem o duplo objetivo" de homenagear António Morão e divulgar os autores da região e as suas publicações.

"A melhor forma de promover uma homenagem ao homem que contribuiu para o desenvolvimento de consciências e condições de acesso à informação, e aos livros, será criar um evento literário que possa semear cultura nas nossas terras e unir os nossos escritores e autores num momento de divulgação da cultura literária da região", salientou Marco Marques.

O primeiro dia, 14, é dedicado a homenagear, na presença da mulher e da filha, António Gil Morão, que deixou o sacerdócio em 1978.

Será também apresentada a ideia de avançar com a edição de uma antologia dos textos de António Morão, em colaboração com a filha, Joana Morão.

Resultado da parceria com os agrupamentos escolares do Fundão, que permitiu dar a conhecer, nas escolas do primeiro ciclo, o "papel preponderante" de António Morão e o seu percurso, no mesmo dia são conhecidos os resultados do concurso para o qual os alunos foram desafiados: escrever uma frase sobre o homenageado.

As seis escolhidas serão afixadas numa oliveira milenar na freguesia e a intenção da organização é a de que em cada edição sejam acrescentadas mais frases, então já com o envolvimento de outros graus de ensino.

Em 15 de junho espera-se que seja um momento de partilha e de encontro entre todos os autores da região que queiram participar no Ecos, "eliminando aquilo que às vezes são barreiras geográficas que não existem, que ninguém vê".

Segundo Marco Marques, a iniciativa parte da comunidade, de um conjunto de pessoas que se está a mobilizar para lançar o novo evento literário.

O elemento da organização, empresário no ramo da construção civil, destacou a importância de António Morão a "agitar consciências" durante o período em que foi padre na Orca, entre 1964 e 1976, e o perfil de um pároco diferente, que incentivava os mais novos a estudarem, numa altura em que poucos o podiam fazer, e que "jogava à bola com os jovens e tinha um convívio próximo com as pessoas".

"A forma mais justa de o homenagear seria lançar uma semente, como ele lançou, no caso este encontro de autores, cronistas, professores, na nossa freguesia, que pretendemos que seja mais uma voz na área da cultura", disse, à Lusa, Marco Marques.

António Gil Morão nasceu em 1925 na freguesia do Peso, Covilhã, e viveu na Alemanha antes de regressar ao Fundão, no distrito de Castelo Branco, onde foi professor de português, latim e de jornalismo.

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