Pianista de jazz André Sarbib assume-se como cantor no seu novo disco "This Is It!"

Porto, 10 Jul (Lusa) - "This Is It!" é o título do novo álbum de André Sarbib, que revela, a quem eventualmente não soubesse, que por detrás do consagrado pianista do jazz em Portugal está também um vocalista a ter em conta.

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Seis das onze faixas do CD, que brevemente estará à venda, mostram a qualidade da voz do pianista que surpreende logo no terceiro tema - "Celui là", o primeiro dos dois belíssimos originais do compositor e chefe de orquestra francês Michel Legrand incluídos no disco.

"La Valse des Lilás", é o outro tema de Michel Legrand, também cantado em francês, a sua língua mãe, a que se falava em casa de seus pais.

André é filho do conceituado pianista francês Roger Sarbib, que introduziu as "Big Bands" em Portugal nas décadas de 40 e 50 e que trabalhou com ícones da canção francesa como Edith Piaf, Charles Trenet ou Maurice Chevalier.

Acompanham a voz e o piano de André Sarbib o trompetista João Moreira, Bernardo Moreira no contrabaixo e João Cunha na bateria, estando também em destaque a contribuição de Pedro Moreira, que fez os arranjos do quinteto de cordas incluído nos dois temas de Michel Legrand.

"Eu sempre cantei em palco, mas nunca o tinha feito em disco. Desta vez, depois de tantos anos a cantar ao vivo, achei que estava na altura de me assumir também como cantor", disse o músico, em declarações à Lusa.

Foi o contrabaixista Bernardo Moreira que convenceu André a assumir-se discograficamente como cantor, tendo os sofisticados arranjos de Pedro Moreira para os dois temas de Michel Legrand funcionado como "argumento decisivo e irrecusável".

Cinco dos temas do disco são originais de André Sarbib e são instrumentais, enquanto os outros cinco são standards cantados.

O disco abre com dois temas próprios, "Valsana" e Asas", a que se seguem os dois originais de Michel Legrand, continuando com o instrumental "Lullaby of Jiveland", de André Sarbib, um título que alude ao clássico "Lullaby of Birdland", de George Shearing e George D. Weiss, cantado pelas maiores vozes do jazz e imortalizado, nomeadamente, por Sarah Vaughan.

"My Foolish Heart" é outro standard, notabilizado por Tony Bennett, que antecede "Como um golpe de asa branca", novo tema próprio, que introduz novo standard cantado, "Blame it on my youth".

Novo tema próprio, "Alma eterna", em que a trompete de João Moreira desempenha papel relevante, antecede o standard "That`s all", em que se destaca uma improvisação de André Sarbib em "scat" [técnica de canto que consiste em vocalizar tanto sem palavras, quanto com palavras sem sentido, sílabas ou onomatopeias, por exemplo "La dum ba pri pa"].

"That`s all" seria um título apropriado para fechar o disco, mas o CD oferece, na décima-primeira faixa, uma versão alternativa de "My Foolish Heart", desta vez mais íntima reduzida ao "dueto a três vozes" entre o piano e a voz de André e a trompete de João Moreira, sem bateria ou contrabaixo.

Este é o terceiro disco de André Sarbib, depois de "O Silêncio das Águas" (1990) e de "Coisas da Noite" (1993), ambos para a etiqueta Numérica, tal como "This Is It!".

No seu currículo, André Sarbib tem inúmeras colaborações com alguns dos nomes mais importantes do cena internacional, nomeadamente Joe Lovano, Barry Altschul, Ivan Lins, Carles Benavent, Ruben d`Antas, Jorge Rossi, Saheb Sarbib (nome artístico de seu irmão Jean Sarbib, contrabaixista que é hoje personagem importante da vanguarda nova-iorquina), Carlos Carli, Joachim Chacón e Paulo de Carvalho, entre outros.

A este currículo devem somar-se as suas contribuições em actuações e discos de uma infinidade de músicos e cantores da melhor música portuguesa.

"Cada vez há mais músicos fantásticos em Portugal nas novas gerações, como aqui está demonstrado neste disco, é pena que cada vez seja mais difícil tocar, dado que as televisões deixaram de mostrar música não comercial e as rádios não passam jazz nacional", diz André Sarbib, que está pessimista quanto ao futuro dos músicos em Portugal.

Para o músico, está-se ante "uma regressão monstruosa", face ao que acontecia nos anos 80 e 90, quando pelo menos a RTP ainda gravava música portuguesa não comercial.

PF.

Lusa/Fim


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