Pintor Guilherme Parente morre aos 85 anos após seis décadas de obra artística

O pintor Guilherme Parente, com uma obra que percorre seis décadas, morreu na madrugada de hoje, aos 85 anos, no Hospital de Cascais, onde tinha dado entrada nas urgências no dia anterior, indicou à agência Lusa fonte próxima da família.

Lusa /

O artista, nascido em Lisboa em 15 de dezembro de 1940, com mais de uma centena de exposições individuais no seu percurso, foi internado após vários meses de agravamento do seu estado de saúde devido a doença prolongada, acrescentou a mesma fonte.

O velório de Guilherme Parente realiza-se na sexta-feira, a partir das 16:00, seguindo-se a missa de corpo presente no sábado, às 14:30, no Agnus Dei Centro Funerário de Alcabideche.

Guilherme Metzner Serra Parente iniciou em 1962 os estudos de Pintura com o mestre Roberto Araújo, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, frequentando também, na mesma década, os cursos de gravura na Gravura - Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses.

Entre 1968 e 1970, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian na Slade School of Fine Arts, em Londres, onde teve como professor Bartolomeu Cid dos Santos, e, regressado a Portugal, apresentou em 1970 a sua primeira exposição individual na Sociedade Nacional de Belas Artes, instituição de que fez parte da direção, entre 1973 e 1989.

Ao longo de quase sessenta anos de prática artística, participou em cerca de uma centena de exposições individuais em Portugal e no estrangeiro, com apresentações em cidades como Tóquio, Bruxelas, Frankfurt, Paris, Londres, Macau, Madrid, Roma, Atlanta, Goa e Córsega, tornando-se um dos nomes de referência da pintura contemporânea portuguesa.

No âmbito da Lisboa`94 Capital Europeia da Cultura apresentou "O atelier voltado para a rua", nas janelas do seu ateliê no Palácio Valada Azambuja, junto ao Elevador da Bica.

Realizou também diversas instalações em espaços exteriores, nomeadamente no Centro Cultural de Belém, com "Bandeiras no Jardim das Oliveiras", em 2002, nas muralhas da Cidadela de Cascais, com "Sete Navios" e "Presépio", na fachada do seu ateliê, em 2007, e no Terreiro do Paço, com "Pelos 4 cantos do mundo", em 2014.

Em 1976 fez parte do grupo artístico "5 + 1", criado pelos pintores João Hogan, Júlio Pereira, Teresa Magalhães e Sérgio Pombo, e pelo escultor Virgílio Domingues.

Conhecido pelo estilo marcadamente lírico e narrativo, Guilherme Parente foi distinguido com o Prémio Malhoa, em 1975, e com o Prémio de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1989.

A sua obra encontra-se representada em numerosas coleções públicas e privadas, entre as quais a Coleção de Arte Contemporânea do Estado, na Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, na Caixa Geral de Depósitos, na Casa de Serralves e na Fundação Millennium bcp, na Fundação Oriente, na Fundação Soares dos Reis, no Museu Nacional Machado de Castro e no Museu da Cidade de Lisboa.

A sua mais recente exposição, "Mistério e Revelação Pintura e Desenho 1960-70", com curadoria de Nuno Faria, encontra-se patente na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa, até 20 de dezembro.

Da pintura às artes gráficas, como a gravura e a serigrafia, passando pelo azulejo e pela aguarela, Guilherme Parente construiu um percurso singular, amplamente refletido pela crítica, nomeadamente por José-Augusto França, que o descreveu como "um pintor de festa suave e lírica, tocado de nostalgia".

Já o crítico de arte Rui Mário Gonçalves escreveu que a sua obra "gira em torno da crença de uma sageza natural que permite ao homem interpretar edenicamente o mundo", e Bernardo Pinto de Almeida destacou "esse antiquíssimo amor pelas estrelas que afasta o receio da noite".

Por seu turno, o crítico de arte Fernando Azevedo afirmou que "nada nele é febril e tudo é maravilhoso", sublinhando a pintura "que se encaminha para o êxtase, ora em alegria, ora em meditação".

Da bibliografia de Guilherme Parente destacam-se "Obra Gráfica 1963-1993", publicada pela Câmara Municipal de Lisboa em 1992, e "Conversa. Vida e Obra", editada pela Imprensa Nacional, em 2016.

Está prevista para o próximo ano uma nova publicação dedicada ao artista, a editar pela Fundação Carmona e Costa.

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