Poemas sobre idades da mulher compõem "Ela Uma Vez"
As idades da mulher, da infância à velhice, nas palavras de sete poetisas de língua portuguesa, são levadas ao palco do Teatro Mundial, em Lisboa, pela actriz Cláudia Andrade, a partir de quinta-feira.
Chama-se "Ela Uma Vez" o espectáculo da associação cultural Próxima Estação que põe a "poesia em cena", cruzando-a com o teatro, a música e a animação (de Joana Patrício).
O objectivo do espectáculo "é fazer chegar a poesia às pessoas, fazê-las perceber que a poesia faz parte da vida, não serve só para ser declamada, e pareceu-nos que um bom fio condutor era isto, simplesmente, as idades da mulher", disse hoje à Lusa Cláudia Andrade, também responsável pela concepção artística do espectáculo, além de intérprete.
Foram escolhidos cerca de 33 poemas de quatro autoras portuguesas - Adília Lopes, Ana Hatherly, Ana Luísa Amaral e Natália Correia - e três brasileiras - Adélia Prado, Elisa Lucinda e Marina Colasanti - que vão sendo ditos ou cantados pela actriz ao longo de uma hora em cena.
"A poesia tem sido um bocadinho maltratada, por se achar que é uma coisa muito erudita, muito inacessível, quando não é, é uma coisa que flui e com vida", defendeu.
Cláudia Andrade olha directamente para o público enquanto diz ou canta os poemas, como que à procura de um sinal de que quem a ouve entende o que diz.
"A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida que eu já tô ficando craque em ressurreição", exclama a dada altura, numa fase já de alguma maturidade e desencanto, citando a poetisa brasileira Elisa Lucinda.
Noutro momento do espectáculo, canta o poema de Adília Lopes "La Femme de Trente Ans", musicado por Teresa Gentil: "Amarás o meu nariz brilhante, as minhas estrias, os meus pontos pretos (...) ou não me amarás".
E em seguida desabafa "Eu quero amor feiinho - amor feiinho não olha um para o outro, uma vez encontrado é igual fé, não teologa mais (...)", um poema da brasileira Adélia Prado, que descobriu o amor no Outono da vida.
"Eu queria muito mostrar o outro lado da poesia: a poesia pode ser cómica, é mundana, é simples, fala de coisas com as quais nos identificamos, da rotina das pessoas", frisou.
Integrado no Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, este é um espectáculo de mulheres, sobre as mulheres, mas não exclusivamente para mulheres, explicou a protagonista.
"Mas não é um espectáculo feminista. É uma homenagem à mulher, é sobre a mulher, de facto, mas são vivências humanas, com as quais qualquer homem se pode também identificar", observou.
"Ela Uma Vez" fala de "experiências e momentos que são tipicamente femininos, mas no fundo fala das nossas emoções, das nossas fragilidades, dos momentos de paixão, de morrer muitas vezes durante a vida...", acrescentou.
Resultante de um processo de criação colectivo da Próxima Estação, "Ela Uma Vez" estreou-se em Tondela, na ACERT, num espectáculo único, a 23 de Junho, a culminar uma residência de um mês.
Na quinta-feira, será a vez da estreia em Lisboa, no Teatro Mundial, onde estará em cena até dia 28 de Outubro.
Para promover o espectáculo, foi criado o pacote "Elas em Família - 3G", em que se oferece um bilhete na compra de outros dois às famílias em que três gerações de mulheres (avó, mãe e filha) apareçam na bilheteira.