Poeta Nuno Júdice destaca "respeito absoluto" pela língua portuguesa

por Lusa

O ensaísta e poeta Nuno Júdice, autor de dois poemas cantados por Carlos do Carmo, que morreu hoje aos 81 anos, destacou o "respeito absoluto" que o fadista tinha "pela poesia, pela língua e pela tradição, o Fado".

Nuno Júdice, autor de "Fado à Noite" e "Lisboa Oxalá", temas incluídos no álbum "À Noite", de Carlos do Carmo, editado em 2008, fala num "respeito absoluto" que o fadista tinha "pela poesia, pela língua e, depois, pela tradição, o Fado". "Ele foi buscar essas formas tradicionais do fado português e foi capaz de as renovar e atualizar de uma maneira perfeita", afirmou, em declarações à Lusa.

Nuno Júdice recordou um "amigo", cujas "conversas eram sempre fascinantes". "Tinha atrás dele toda a história do Fado, mas ao mesmo tempo era um homem que olhava para o presente e muito atento à realidade do país e do mundo", afirmou.

Enquanto artista, cantor, o que fascinava o poeta "era a forma como [Carlos do Carmo] dizia o poema".

"Ele próprio, quando me pediu para escrever dois fados para ele, me disse para ter muita atenção à palavra, porque a voz dele respeitava integralmente cada sílaba. Nós ouvimos, quando ele canta, toda a frase poética que está na canção", disse.

Foi com Carlos do Carmo que Nuno Júdice aprendeu "a escrever poesia para ser cantada": "Porque ele me dizia para estar muito atento, não apenas à melodia da própria língua, mas à métrica, à forma como os acentos têm de estar localizados para que não haja nenhuma traição quando [se] está a cantar".

Os dois poemas que Nuno Júdice escreveu para Carlos do Carmo, que deram origem aos temas "Fado à Noite" e "Lisboa Oxalá", "foram trabalhados com" o fadista.

"E não houve muito a alterar, mas percebi que ele me estava de certo modo a ensinar, mas de uma forma muito discreta, sem estar a impor de maneira nenhuma a sua forma. Aquilo que ele queria era que eu estivesse à vontade para fazer essas pequenas alterações, que foram coisas mínimas, mas que faziam com que a métrica se adaptasse perfeitamente àquilo que a voz dele pretendia", recordou.

Carlos do Carmo morreu hoje, aos 81 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, disse o seu filho Alfredo do Carmo à agência Lusa.

Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, Carlos do Carmo era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, em Lisboa, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.

Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, na Alemanha, do `Canecão`, no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.

Despediu-se dos palcos em 09 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

"No Teu Poema", "Um Homem na Cidade", "Flor de Verde Pinho", "Os Putos", "Canoas do Tejo", "Lisboa, Menina e Moça", "Bairro Alto", "Por Morrer uma Andorinha", "Fado do Campo Grande" ou "Fado da Saudade", com o qual ganhou um Prémio Goya, em Espanha, foram alguns dos seus êxitos.

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