Polémica à volta do último livro de José Saramago

José Saramago apresentou-se hoje perante os jornalistas para uma conferência de imprensa de apresentação do seu novo livro "Caim". O Nobel da literatura acabou por reconhecer que foram as suas declarações em Penafiel que suscitaram "incompreensões" e "ódios velhos" e não o seu último livro.

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Novo livro de José Saramago envolto em grande polémica RTP

O escritor José Saramago fez ao início da tarde de hoje a apresentação do seu último livro que tanta polémica tem suscitado desde que o Nobel da Literatura se deslocou a Penafiel no passado Domingo onde o seu último trabalho foi apresentado.

Saramago começou por lamentar que "Caim" tenha suscitado "incompreensões" e "ódios velhos", um "alvoroço" não suscitado pelo livro, mas pelas declarações por si proferidas na apresentação do livro em Penafiel.

"Desperto muitos anti-corpos" disse o escritor que com ironia referiu ser este o "livro que mais se tem falado apesar de não ter sido lido", uma situação que qualificou de "magia e quase milagre" por "se ter dito tanto sobre um livro que não leram".

"É obra!", disse José Saramago que considera "magia" e "quase um milagre que certos sectores tenham conseguido dizer tanto em relação a um livro que não leram".

Saramago diz que não escreve para ser polémico e recusou as acusações da Conferência Episcopal Portuguesa de que as declarações que fez em Penafiel fazem parte de uma operação publicitária e acrescenta que "todo este alvoroço se levantou não por causa do livro mas por umas quantas palavras que eu disse em Penafiel. O curioso é que não disse nada que as pessoas não saibam".

Saramago não escreve sobre o Corão

Com polémica ou não Saramago reafirmou que na Bíblia há "crueldade, há incestos, há violência de todo o tipo, há carnificinas. Isto é indesmentível" e sobre a acusação de ter feito uma interpretação literal do texto bíblico, os escritor referiu que "aquilo que eles querem e não conseguem é colocar ao lado de cada leitor da Bíblia um teólogo que dissesse à pessoa que aquilo não é assim, que há que fazer uma interpretaçao simbólica, a isto chamam a exegese. (...) Eu sou suficientemente ingénuo para ler aquilo que esta lá e é sobre aquilo que está lá que eu trabalho".

Desde que o livro foi apresentado, em Penafiel no passado domingo, foram muitas as reacções e uma delas, do eurodeputado do PSD Mário David, que incitou Saramago a abdicar da cidadania portuguesa, o escritor limitou-se a ironizou com o assunto: "Imagina que eu vou fazer algum comentário sobre isso? É evidente que não."

Já sobre a hipótese do Nobel da Literatura vir a escrever sobre o Corão, a resposta foi rápida: "Tenho mais que fazer, estou a escrever outro livro. Espero que para o próximo ano haja novo livro de José Saramago".

A polémica instalou-se desde domingo passado após as declarações de José Saramago sobre o seu último livro, "Caim", declarações que não caíram bem no seio da igreja católica e que, desde logo, foram veementemente repudiadas.

José Saramago voltou a referir-se a este tema e ao seu livro numa conferência de imprensa convocada para Alfragide, nas instalações do Grupo Leya, de que faz parte a editora Caminho, a histórica editora do autor.

O livro "Caim", lançado em Penafiel no domingo passad, já está nas livrarias desde segunda-feira passada, ao mesmo tempo que edições em castelhano e catalão foram postas à venda, tal como a edição brasileira.
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