Portugal foi o país mais maoista da Europa
O historiador José Pacheco Pereira considera que Portugal foi o país europeu onde o fundador do comunismo chinês, Mao Zedong, teve mais adeptos e que parte da sua actual elite "passou pelo maoismo".
"Dezenas de ministros de vários governos e uma boa parte da nossa `inteligenzia` foram maoistas", realçou Pacheco Pereira na apresentação da biografia "Mao, A História Desconhecida", de Jung Chang e Jon Halliday, terça-feira à noite, em Lisboa.
"A passagem pelo maoismo é um elemento muito importante da nossa história contemporânea", acrescentou.
Segundo Pacheco Pereira, que foi também maoista e ainda sabe de cor a música de "Oriente é Vermelho", o hino da Grande Revolução Cultural Proletária, no inicio da década de setenta, em Portugal, o maoismo era "a corrente politica dominante na esquerda radical".
A eleição de um deputado da União Democrática Popular (UDP) nas primeiras eleições livres, em 1975, "é um caso único na Europa", salientou.
Pacheco Pereira reconheceu, contudo, que a esmagadora maioria dos maoistas portugueses "não sabia nada da China" e que a "sinofilia" da altura era uma "atracção intelectual", baseada numa "relação mítica com uma realidade longínqua".
Ao contrário do que ele próprio imaginava há trinta anos, Mao foi "um ser completamente amoral" e governou a China com uma "enorme crueldade". De acordo com a biografia de Jung Chang, que Pacheco Pacheco considerou "excelente", Mao Zedong foi responsável por mais de setenta milhões de mortos em tempo de paz, 38 milhões dos quais em apenas três anos (1959-1961), "na "pior fome do século XX".
"Nem Hitler ou Estaline foram tão horrível", disse Jung Chang no lançamento da tradução portuguesa do seu livro, no Teatro Nacional D. Maria, em Lisboa.
O Director do jornal Publico, José Manuel Fernandes, que na juventude teve também "uma paixão por Mao e pelo comunismo chinês", qualificou o livro de Jung Chang como uma obra "muito educativa para todos aqueles que tiveram a ilusão que na China havia um idealismo libertador".
"Este livro revela-nos que por trás de Mao não havia nenhum ideal ou ideologia: apenas uma obsessão pela sua própria figura e pelo poder", afirmou.
Mao Zedong (1893-1976) governou a China durante quase três décadas. Os seus sucessores converteram-se à economia de mercado, mas oficialmente, o "Pensamento Mao Zedong" continua a ser um "princípio cardeal", juntamente com o marxismo-leninismo.
"Qualquer reforma politica na China tem de começar pela rejeição de Mao", disse Jung Chang.
Jung Chang, radicada em Inglaterra desde o final da década de setenta, nasceu em 1952 na província de Sichuan, sudoeste da China.
O seu primeiro livro, "Cisnes Selvagens", publicado em 1991, vendeu mais de dez milhões de exemplares em todo o mundo.
"Mao Zedong, a Historia Desconhecida" - um livro com cerca de 800 páginas, editado pela Bertrand - é a sua segunda obra, elaborada ao longo de doze anos com a colaboração do marido, o historiador britânico Jon Halliday.