Em direto
Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito entre Irão e Israel ao minuto

Portugal pioneiro com projeto de coro de surdos

por Lusa

Quando, há 12 anos, Sérgio Peixoto iniciou o projeto Mãos Que Cantam, o que mais o impressionou foi a descoberta de que "não havia nada do tipo deste coro de pessoas surdas no mundo".

"Então, começámos mesmo do zero e construímos uma gramática gestual para dirigir pessoas surdas através da música. Eu, no fundo, faço um bocadinho esta ponte entre a música que se ouve para a música dos gestos", sublinha o diretor artístico do projeto Mãos Que Cantam.

Sérgio Peixoto lembra ainda que, a partir desta constatação, foram mais fundo e, tomando como exemplo "as crianças do quinto e sexto anos surdas", que "não fazem parte da turma de educação musical, ou porque os professores não sabem a Língua Gestual portuguesa e, também, como são surdos, as pessoas pensam que não vão conseguir fazer nada", prepararam um "e-book para ajudar esses professores.

No fundo, tratou-se de ensinar-lhes como fazer música com crianças surdas através da experiência adquirida no Mãos Que Cantam.

A adesão dos professores foi muito boa, mas, segundo o responsável, o mais importante foi perceber que as crianças, de repente, descobriram que "podiam fazer uma coisa completamente diferente, no sentido de que podiam utilizar a sua identidade e fazer música também".

E esta possibilidade de fazer música tem sido mostrada em cada espetáculo pelos elementos do Mãos Que Cantam, num processo que começou com as primeiras apresentações com o coro da Universidade Católica.

"Depois, o grupo cresceu e saltámos um bocadinho os muros da universidade e começámos a fazer concertos pelo país. Começámos também a sensibilizar músicos portugueses de que é possível fazer música com pessoas surdas e tivemos o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do Projeto Partis, também do BPI Capacitar, de várias instituições que nos apoiaram, não só financeiramente, mas também logisticamente, como é o caso da D. Ajuda, aqui este espaço em que nós trabalhamos", lembra Sérgio Peixoto.

Tendo já feito concertos com orquestras, como a Orquestra e o Coro Gulbenkian, bem como grupos como os Xutos e Pontapés ou músicos como Jorge Palma ou Cuca Roseta, têm vários projetos para pôr em prática, "como gravar uma série de vídeos com músicos reconhecidos para sensibilizar, não só os músicos, mas também o público desses músicos, que há outras pessoas que fazem música de maneira diferente".

E qual é a recetividade desses músicos? A resposta de Sérgio Peixoto é simples: "é fantástica, é fantástica. De repente, eles percebem que a música deles não se transforma, mas cria-se com uma outra roupagem que tem a ver com a Língua Gestual portuguesa".

Já quanto à recetividade do público, o diretor artístico explica que, ao longo destes 12 anos, chegou à conclusão de que "muita gente não tem uma gaveta emocional para quando está a assistir a um espetáculo com o projeto Mão Que Cantam, porque não sabe do que é que está à espera".

"Eu digo que não há uma gaveta emocional, porque, quando vamos a um concerto já sabemos do que é que se está à espera e vamos ouvir um músico de que gostamos, vamos ouvir as músicas que sabemos, mas aqui estamos a ouvir as músicas que sabemos interpretadas em Língua Gestual Portuguesa. E isso, para muita gente é uma surpresa, porque não está sensibilizada para este tipo de arte feito pelas pessoas surdas", acrescenta o diretor artístico do Mãos Que Cantam.

Tópicos
pub