Portugueses despedem-se de Daniel Morais com poesia e "Grândola vila morena"
Com a declamação de vários poemas sobre Lisboa e ao som da canção "Grândola vila morena" (Zeca Afonso), mais de trezentos portugueses despediram-se de Daniel Morais, presidente do Instituto Português de Cultura (IPC), que morreu sexta-feira.
Os poemas e outras mensagens de despedida foram declamados por companheiros do "lisboeta apaixonado pela sua cidade e pela cultura portuguesa" que, com cravos vermelhos, fizeram ainda referência ao "significado mágico" do 25 de Abril de 1974 para Daniel Morais.
Definido pelas pessoas com quem conviveu como "um homem simples que falava com profundidade", em alusão "à sua cultura tremenda e à prática do verbo amar", Daniel Morais, 83 anos, faleceu na última sexta-feira, pouco antes das 10:00 locais (15:00 em Lisboa) numa clínica de Caracas, onde estava hospitalizado desde há algumas semanas, vítima de problemas cardíacos.
Os seus restos mortais estiveram em câmara-ardente na Capela de Nossa Senhora de Fátima, no Centro Português de Caracas, até depois das 11:00 locais (16:00 de Lisboa), e o funeral realizou-se para o Cemitério del Este.
Natural de Almada, onde nasceu em 1924, Daniel Morais era casado e tinha três filhos. Emigrou para a Venezuela em 1948, por razões políticas e económicas, dada a sua militância anti-salazarista e anti-fascista, tendo integrado o Comité Central do MUD-Juvenil.
Simpatizante do Partido Socialista, esteve preso nas cadeias de Aljube e Caxias, na companhia de Mário Soares e Octávio Pato.
Em Caracas, em 1950, abriu uma fábrica de móveis "estéticos e modernos", a Arteque, que influenciou o mercado local e mais tarde foi comprada pela norte-americana Sears.
Entrou para os quadros da embaixada de Portugal em Caracas em 1989, onde era adido cultural e promovia visitas à Venezuela de importantes personalidades da cultura portuguesa.
Desde 30 de Novembro de 1985, era presidente do Centro Fernando Pessoa, instituição que passou a chamar-se Fundação Instituto Português de Cultura.
Em 1956, produziu vários programas radiofónicos dirigidos à comunidade portuguesa na Venezuela, entre eles a Serenata Portuguesa e o Ecos de Portugal, que mais tarde se transformou em semanário da imprensa escrita, já extinto.
A 10 de Junho de 1958, Daniel Morais fundou o Centro Português de Caracas.