Prémio Goncourt de Kamel Daoud, mortos de Rafaela Ferraz e inédito de Montalbán na "rentrée" da Bertrand
O romance "Huris", do argelino Kamel Daoud, vencedor do Prémio Goncourt 2024, uma visita aos locais de morte pela especialista em medicina legal Rafaela Ferraz e um Montalbán inédito em Portugal são alguns destaques da Bertrand até novembro.
O Grupo Bertrand Círculo apresentou hoje as novidades da sua `rentrée` literária, tendo como um dos grandes destaques a publicação de "Huris", romance que fez do seu autor o primeiro argelino a vencer o prestigiante prémio literário das letras francesas.
A história é um relato ficcional dos massacres durante a "década negra" da Argélia (1992-2002), centrado em Aube, uma jovem grávida que conta à filha por nascer o massacre da sua família, a 31 de dezembro de 1999, por islamitas que tentaram cortar-lhe a garganta, deixando-a desfigurada e muda.
O romance, que chega na quinta-feira às livrarias, ganhou destaque internacional não só pelo Prémio Goncourt, mas também por uma polémica em que se viu envolvido, quando o autor foi acusado de ter usado a história de uma paciente de sua mulher, psiquiatra, para escrever o livro.
O escritor franco-argelino defendeu-se, afirmando que as acusações são "completamente falsas" e resultado de manipulação, mas não se livrou de dois mandados de captura internacionais emitidos pela justiça argelina.
Por enquanto Kamel Daoud está sob proteção de França, país onde reside desde 2020 "exilado pela força das coisas" - nas suas palavras -, depois de em 2014 ter sido alvo de uma `fatwa` pela sua posição muito crítica em relação ao fanatismo religioso na Argélia.
Kamel Daoud, que já havia recebido o Goncourt de primeiro romance em 2015 com "Meursault, contra-investigação" (obra escrita como uma resposta a "O estrangeiro", de Albert Camus), tem sido um dos principais nomes envolvidos na libertação do escritor franco-argelino Boualem Sansal detido na Argélia há dez meses.
A Bertand Editora vai ainda publicar, mas em outubro, uma nova edição de um dos mais icónicos títulos de Stephen King, "Salem`s Lot -- A hora do vampiro", que celebra 50 anos, com um design gráfico especial.
Outro dos destaques do grupo é o livro "Portugal de Morte a Sul", a ser publicado este mês pela Quetzal, algures entre o guia de viagens e o ensaio sobre a mortalidade, procurando um diálogo com a morte nos espaços que esta domina.
Da autoria da escritora e investigadora independente Rafaela Ferraz, licenciada em Criminologia e mestre em Medicina Legal pela Universidade do Porto, este livro faz uma viagem por cemitérios e igrejas, santuários e museus, locais públicos e semipúblicos que -- no tempo do turismo insólito - tentam uma aproximação aos que morrem e aos seus cerimoniais.
O mês de setembro leva ainda às livrarias um novo romance da escritora chinesa Can Xue, frequentemente apontada como favorita ao Prémio Nobel da Literatura, de quem a Quetzal já publicou anteriormente "O amor no novo milénio" e a Relógio d`Água editou "Fronteira".
Neste novo título, "A última amante", Can Xue cria um mundo extremo onde cada personagem tenta afastar a morte e o passado, seja em bares decadentes e ruas sinuosas da cidade, seja em desertos ou montanhas tingidas de neve.
Ainda na mesma altura, será publicado "Setembro negro", do escritor italiano Sandro Veronesi, autor de "Colibri", romance vencedor do Prémio Strega, editado em 2022 pela Quetzal e adaptado ao cinema.
Em outubro, será publicado um livro de Manuel Vázquez Montalbán, "A solidão do manager", que trata do segundo grande caso de Pepe Carvalho, o famoso detetive privado criado pelo escritor espanhol, mas pela primeira vez traduzido e publicado em Portugal.
Outra novidade para este mês, na mesma chancela, é o regresso ao romance de José Luis Peixoto, depois de "Almoço de Domingo" (2021), desta vez com outra história de ficção, que nasce de um projeto não ficcional.
"A montanha" partiu da ideia de acompanhar pacientes do Instituto Português de Oncologia do Porto e resultou num romance habitado por homens e mulheres de várias idades, com origem em diversas cidades e países, que vai do hiper-realismo, documental e autobiográfico, ao surrealismo, à alucinação e ao delírio, segundo a editora.
Novembro chega com mais um romance de José Eduardo Agualusa, "Tudo sobre deus", centrado na memória, no milagre da vida, e numa capela no deserto de onde se vê o mar; assim como um livro de originais de José Tolentino Mendonça, "Para os caminhantes tudo é caminho", com textos sobre as inquietações e liturgias de vida do poeta, sacerdote e professor.
O terceiro e último volume dos diários de Vergílio Ferreira, "Conta-Corrente", correspondente aos anos de 1986 a 1992, e o sexto volume da Bíblia, traduzida diretamente do grego por Frederico Lourenço, são outras novidades da Quetzal para novembro.
No campo da não-ficção, a Bertrand publica em outubro "Que Presidente da República para Portugal? -- Contra a tentação presidencialista", de Vital Moreira, que inclui sugestões de alteração constitucional no sentido de reforçar o caráter parlamentar.
Em novembro, a aposta vai para "A história da contrarrevolução - do 25 de novembro de 1975 aos nossos dias", de Raquel Varela e Adriano Zilhão, em que os autores contextualizam esta data não como um fenómeno português isolado, mas como um fenómeno internacional, quase global.
Outras novidades são "E se Einstein soubesse?", em que o Prémio Nobel da Física Alain Aspect apresenta ao público em geral o seu trabalho inovador em física quântica; "O romance de Camilo", a grande biografia de Camilo Castelo Branco escrita por Aquilino Ribeiro, pela primeira vez num só volume.
Na Temas e Debates sai já este mês "Porque morremos -- a nova ciência do envelhecimento e a procura da imortalidade", pelo Prémio Nobel da Química Venki Ramakrishnan; "Construtoras de impérios -- Vozes de mulheres na expansão portuguesa", coordenado pela investigadora e professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Amélia Polónia.
Em novembro, esta chancela publica "A inteligência natural & a lógica da consciência", por António Damásio, o primeiro livro que avança a hipótese credível de como a consciência é produzida".