Prémio Pessoa 2005 atribuído a Luís Miguel Cintra

por RTP
Mais um dos mais importantes prémios do país a distinguir o actor e encenador Manuel Almeida/LUSA

O Prémio Pessoa 2005 foi atribuído ao actor e encenador Luís Miguel Cintra, anunciou o presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão.

É um dos mais importantes prémios do país, distinguindo anualmente uma personalidade portuguesa com "intervenção relevante" na vida científica, artística e literária.
O actor e encenador Luís Miguel Cintra, Premio Pessoa 2005, foi a primeira personalidade das artes do espectáculo distinguida com aquele galardão.
Luís Miguel Cintra "tem construído, ao longo de mais de três décadas, um percurso exemplar, tanto como actor, como nos planos da dramaturgia e da encenação", considerou o Júri do Premio Pessoa.
Na fundamentação da sua escolha, o júri do Prémio Pessoa 2005 destacou que o repertório de Luís Miguel Cintra abrange "as principais referências da literatura teatral de todos os tempos, dos clássicos aos contemporâneos, com uma atenção particular ao teatro português, nomeadamente a Gil Vicente".
O júri salientou ainda o trabalho que o actor e encenador realizou no Teatro da Cornucópia durante mais de três décadas, onde "marcou uma presença de grande coerência no panorama cénico português, desde o rigor de fixação e/ou tradução dos textos, ao aparato crítico dos programas e à pesquisa no âmbito da cenografia e da representação".
"Distingue-se igualmente pela sua acção formativa, com reflexos em sucessivas gerações de novos valores teatrais" e "tem ainda desenvolvido uma carreira notável no cinema português e europeu, e com intervenções destacadas como encenador de ópera e declamador de poesia", justificou o júri.
Luís Miguel Cintra evidenciou-se também como autor da dramaturgia e encenação do inédito "Comédia sin título", de Garcia Lorca, que teve a sua estreia mundial no teatro de La Abadia em Madrid.
Em 2005, o actor encenou em Lisboa peças de Brecht, Bonde e Fassbinder e participou no filme "O Espelho Mágico" de Manuel de Oliveira apresentado no último Festival de Veneza.
Anteriormente, Luís Miguel Cintra participou em muitas outras longas metragens do patriarca do cinema português, nomeadamente "Vale Abraão", "A Caixa", "O Convento", "O Sapato de Cetim" ou "O meu Caso".
O Prémio Pessoa, instituído em 1987 pelo semanário Expresso e a empresa Unysis, é um dos mais importantes do país, distinguindo anualmente uma personalidade portuguesa com "intervenção relevante" na vida científica, artística e literária.

Distinção "merecida" e "importante para o teatro"

O encenador João Mota considerou hoje a atribuição do Prémio Pessoa a Luís Miguel Cintra "muito merecida e importante para o teatro como criação intelectual de cultura".

Para o encenador do Teatro A Comuna, Luís Miguel Cintra "é duplamente merecedor" daquele galardão, "quer pelo seu trabalho verdadeiramente notável quer como actor, quer no trabalho que faz com a sua companhia, o Teatro da Cornucópia".

Deste trabalho, João Mota salientou "a recolha de repertório de excelente qualidade".

O encenador de A Comuna fez votos para que a atribuição deste Prémio "chame a atenção para o teatro que tem andando tão abandonado e às esmolas".

O actor e encenador Luís Miguel Cintra, 56 anos, nasceu em Madrid, tendo iniciado a sua carreira em 1968, no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa.

Em 1973, fundou, com Jorge Silva Melo, o Teatro da Cornucópia, de que é ainda o primeiro responsável.


Distinção a Cintra "é um acto de justiça"

O dramaturgo Luiz Francisco Rebello qualificou hoje Luís Miguel Cintra como "o maior actor português vivo", considerando a atribuição do Prémio Pessoa "um acto de justiça".

"O Prémio Pessoa chama a atenção para a importância do teatro e faz justiça, distinguindo o maior actor português vivo", disse à Lusa Luiz Francisco Rebello.

O prémio, segundo o investigador, distingue também "o grande fomentador de teatro que Luís Miguel Cintra é".

Para Francisco Rebello, "uma das grandes qualidades" de Luís Miguel Cintra "é a combinação de um trabalho extremamente rigoroso com a extrema liberdade criativa".

Francisco Rebello destacou "as escolhas estéticas de apurada qualidade e sensibilidade" do actor e encenador, nomeadamente com a companhia o Teatro da Cornucópia, que fundou com Jorge Silva Melo, em 1973.

Luís Miguel Cintra, 56 anos, nasceu em Madrid, tendo iniciado a sua carreira em 1968, no Grupo de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa.

Luis M. Cintra dedicou mais de metade da vida ao teatro

O actor e encenador Luís Miguel Cintra, Prémio Pessoa 2005, dedicou mais de metade da sua vida ao Teatro, sendo o fundador e principal responsável da companhia da Cornucópia desde 1973.

Filho de uma das principais figuras da linguística portuguesa, Luís Filipe Lindley Cintra, nasceu há 56 anos em Madrid, cidade onde só viveu dois anos, mas confessou recentemente sentir que tem "muito a ver com aquela terra".

Foi aliás em Madrid que, pela primeira vez, encenou fora da Cornucópia, há apenas um mês, com a peça "Comédia Sem Título", de Frederico Garcia Lorca, que esteve em cena no Teatro de la Abadia.

No final da década de 60 encenou o seu primeiro espectáculo, "O Judeu", de António José da Silva, juntamente com Jorge Silva Melo, co-fundador da Cornucópia.

Este ano, encenou em Lisboa peças de Brecht, Bonde e Fassbinder e participou no filme "O espelho mágico" de Manoel de Oliveira apresentado no último Festival de Veneza.

Como actor de cinema, estreou-se em 1971 no filme "Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço", de João César Monteiro, e entrou em várias produções de Manoel de Oliveira, como "Vale Abrãao" (1993), "A Caixa" (1994), "O Sapato de Cetim" (1985), "O Meu Caso" (1987), "O Convento" (1995), ou "Princípio da Incerteza" (2002).

Interpretou também papéis em filmes de outros conceituados cineastas e realizadores portugueses, como João César Monteiro, Paulo Rocha, Maria de Medeiros, Teresa Vilaverde.

Em 2002, entrou ainda na produção "Em Clandestinidade" do realizador do norte-americano John Malkovich.

Foi argumentista do filme "A Morte do Príncipe", de 1991.

Iniciou-se no teatro em 1968, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Românicas.

Ainda antes do 25 de Abril, estudou teatro em Inglaterra, com uma bolsa da Fundação Gulbenkian.

Quando regressou, Luís Miguel Cintra fundou com Jorge Silva Melo, em 1973, o Teatro da Cornucópia, onde há mais de três décadas trabalha como actor e encenador.

Ao longo da sua carreira, participou em Festivais de Teatro em Veneza, Avinhão, Paris, Bruxelas e Udine, e encenou também produções de ópera no Teatro Nacional de São Carlos.

Numa entrevista ao Jornal de Letras em 2003, confessou que se o obrigassem a fazer uma escolher entre ser actor ou encenador, "por prazer" optaria pelo palco.

"Tenho júbilo em representar, em estar em cena. Continuar a brincar, fingindo que sou outra pessoa é-me precioso e fundamental até para o meu equilíbrio psíquico", disse.

Foi várias vezes convidado para ser director do Teatro Nacional D. Maria II (em Lisboa), mas recusou sempre.

"Interessa-me mais dirigir uma estrutura como a da Cornucópia, do que um teatro nacional", justificou.

Luís Miguel Cintra teve ainda "intervenções destacadas" como declamador de poesia, como reconheceu o júri do Prémio Pessoa.

Aliás, organizou recitais de poesia, tendo gravado a leitura integral de "Viagens na Minha Terra", de Almeida Garrett, e de "Amor de Perdição" de Camilo Castelo Branco, assim como poemas de Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Ruy Belo, Luís de Camões e Antero de Quental.

Sampaio sublinha justeza do prémio atribuído a Luís Miguel Cintra

O Presidente da República, Jorge Sampaio, considerou hoje "justa" a atribuição do Prémio Pessoa a Luís Miguel Cintra, salientando que aquele actor e encenador "muito tem prestigiado o teatro e a cultura" portuguesas.

Num telegrama de felicitações enviado ao actor e encenador, o Chefe de Estado evoca a "amizade de sempre" e as "tantas e tão gratas memórias comuns".

Jorge Sampaio enviou ainda a Luís Miguel Cintra um "afectuoso abraço".

Luís Miguel Cintra, 56 anos, fundou a companhia de teatro A Cornucópia em 1973, juntamente com Jorge Silva Melo.

O júri justificou o prémio com o trabalho realizado por Luís Miguel ao longo de mais de 30 anos.

"É difícil voltar a haver um fenómeno como ele" - Paulo Rocha

O realizador português Paulo Rocha manifestou-se hoje "muito emocionado" com a atribuição do Prémio Pessoa 2005 a Luís Miguel Cintra, afirmando que "é difícil alguma vez voltar a haver um fenómeno como ele".

Luís Miguel Cintra é "um caso anormal de trabalho iniciado muito cedo, mas com uma maturidade inacreditável. Está sempre a trabalhar e a tentar dar uma volta para o futuro. É uma oficina incansável. É quase um monumento", disse Paulo Rocha à Agência Lusa.

"Começou a trabalhar com 18 anos e desde essa altura sempre misturou muito trabalho com segurança. Não conheço ninguém que tenha começado tão cedo a fazer tudo sempre tão revolucionário, com extrema solidez, deixando sementes a crescer ao longo de 50 anos", acrescentou.

Paulo Rocha destacou também a capacidade que Luís Miguel Cintra para "misturar os contrários", conseguindo "visitar todos os clássicos portugueses, mas arriscando sempre para o futuro com grande inspiração e equilíbrio".

Recordando um filme que realizou com Luís Miguel Cintra, Paulo Rocha afirmou que o actor era "inspiradíssimo" e que "resolvia com a maior rapidez os problemas".

O realizador salientou também "as coisas espantosos" que Luís Miguel Cintra fez nos filmes de Manoel de Oliveira, nomeadamente "O sapato de cetim", em que esteve quase sempre em cena "a dizer textos dificílimos de poemas, e em francês, com 400 páginas".

Paulo Rocha destacou ainda a "fundamental herança" do seu pai, o professor Lindley Cintra, que lhe deu "uma solidez e um enraizamento bastante diferente das outras pessoas mais novas".

Prémio "mais do que merecido, mas tardio - Manoel de Oliveira

Lisboa, 16 dez (Lusa) - O realizador Manoel de Oliveira congratulou-se hoje com a atribuição do Prémio Pessoa 2005 a Luís Miguel Cintra, sublinhando tratar-se de um galardão "mais do que merecido, mas talvez tardio".

"Finalmente. Mais vale tarde que nunca!", disse Manoel de Oliveira à agência Lusa.

O mais velho cineasta português, e que mais tem trabalhado com Luís Miguel Cintra como actor, considerou "extraordinárias e de excepção" as qualidades do premiado.

Para Manoel de Oliveira, Luís Miguel Cintra é um "actor extraordinário, de grande seriedade e de grande capacidade e com todas as características próprias de um grande actor".

A "expressão, voz e a enorme capacidade de representação de Luís Miguel Cintra" - no teatro e no cinema - foram invocadas por Manoel de Oliveira para justificar o "reconhecimento" do actor em Portugal e no estrangeiro.

"Portanto, nada mais merecido do que este prémio, embora tardio", concluiu.

Manoel de Oliveira, que dirigiu Luís Miguel Cintra em "O Convento", "Vale Abraão" e outros filmes, completou este mês 96 anos de idade.

Escolha "excelente" e incentivo para o teatro - Rui Vieira Nery

O membro do júri do Prémio Pessoa 2005 Rui Vieira Nery considerou hoje a atribuição do galardão ao actor e encenador Luís Miguel Cintra uma "escolha excelente" e "um incentivo para a área do teatro".

Em declarações aos jornalistas em Seteais, depois do anúncio da atribuição do prémio ao director do Teatro da Cornucópia, Rui Vieira Nery congratulou-se por este ano ter sido escolhida uma figura das artes do espectáculo, uma área nunca contemplada desde a instituição do galardão, em 1987.

O ex-secretário de Estado da Cultura considerou ainda que esta escolha "constitui um estímulo para quem trabalha no teatro, um sector que tem vivido grandes dificuldades por falta de apoios".

De acordo com o presidente do júri do Prémio Pessoa, Francisco Pinto Balsemão, o júri apreciou 42 propostas de candidatos, que foram sendo eliminadas até que o vencedor foi escolhido entre quatro finalistas.

Em declarações à Lusa, o proprietário do "Expresso", que patrocina o prémio em conjunto com a Unisys Portugal, sublinhou o contributo do vencedor para o teatro português.

"Ele representa um papel que ninguém discute no teatro em Portugal", resumiu.

"Completamente merecido", diz actriz Márcia Breia

A actriz Márcia Breia considerou hoje que o Prémio Pessoa 2005 atribuído a Luís Miguel Cintra é "completamente merecido", definindo o actor e encenador como "um dos vultos mais importantes da cultura".

"Considero o Luís Miguel uma das pessoas mais importantes. Tem uma coerência enorme em tudo o que faz", disse a actriz à agência Lusa antes de iniciar um ensaio na companhia de teatro A Cornucópia com o galardoado.

"Estou muito contente porque faço parte de um grupo de pessoas que trabalha com ele", acrescentou a actriz, que há 30 anos partilha a experiência profissional com Luís Miguel Cintra.

A actriz falava antes de iniciar o ensaio da "A Gaivota", de Tchekov, que estreia em Março.

O vencedor do prémio foi hoje anunciado pelo presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão.

É um dos mais importantes prémios do país, distinguindo anualmente uma personalidade portuguesa com "intervenção relevante" na vida científica, artística e literária.

Luís Miguel Cintra foi a primeira personalidade das artes do espectáculo distinguida com este galardão.

Júri premiou papel pioneiro no teatro independente - ministra

A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, afirmou hoje que o Prémio Pessoa 2005, atribuído ao actor e encenador Luís Miguel Cintra, "premeia o papel pioneiro que teve no teatro independente português".

A ministra referiu-se ao fundador do Teatro da Cornucópia, de 56 anos, como "um grande actor, encenador, e director de actores".

Luís Miguel Cintra "soube construir um projecto com consistência e uma estratégia sólida e de continuidade", realçou a ministra.

Isabel Pires de Lima disse ainda que o actor e encenador tem sido quem "melhor tem sabido tratar o teatro clássico, tanto nacional como estrangeiro".

O Prémio Pessoa, instituído em 1987, foi este ano atribuído pela primeira vez a uma figura das artes do espectáculo.

Instituído pelo semanário Expresso e a empresa Unisys, já distinguiu até hoje 21 personalidades portuguesas com "intervenção relevante" na vida científica, artística e literária do país, entre as quais o historiador José Mattoso, o neurocirurgião João Lobo Antunes, o escritor José Cardoso Pires, a pianista Maria João Pires e a pintora Menez.

"O expoente máximo do teatro em Portugal" - Leonor Silveira

A actriz Leonor Silveira manifestou-se hoje "bastante alegre" por o Prémio Pessoa 2005 ter sido atribuído a Luís Miguel Cintra, qualificando o actor como "o expoente máximo do teatro em Portugal".

"É uma grande alegria para mim ver que o trabalho do Luís Miguel Cintra foi reconhecido, até porque o considero o expoente máximo do teatro em Portugal", disse Leonor Silveira à agência Lusa.

A actriz - que contracenou com o premiado em filmes realizados por Manoel de Oliveira como "Vale Abraão", "A Carta" ou "Os Canibais", entre outros - sublinhou ainda a "extraordinária qualidade" de Luís Miguel Cintra como "actor, colega e encenador".

"O Prémio Pessoa 2005 não pode, porém, ser dissociado de uma companhia de teatro, até porque espelha o trabalho de A Cornucópia", sustentou, invocando as declarações do premiado.

Luís Miguel Cintra "é de absoluta excepção" - Cristina Reis

A directora de A Cornucópia, Cristina Reis, considerou hoje a atribuição do Prémio Pessoa a Luís Miguel Cintra "um prazer enorme", qualificando o premiado como "uma pessoa de absoluta excepção".

"No entanto, não são os prémios que fazem que o Luís Miguel Cintra seja considerado por mim como uma pessoa de absoluta excepção", sublinhou à agência Lusa Cristina reis, que juntamente com Luís Miguel Cintra dirige A Cornucópia desde o início de 1980, quando a sede da companhia mudou para o Teatro do Bairro Alto.

Para Cristina Reis, os prémios têm "sempre um lado que não é pacífico", já que "são algo que se recebe com a maior das facilidades, não pelo prémio em si, mas pelo carácter único de Luís Miguel Cintra".

"A tenacidade, coragem e teimosia de Luís Miguel Cintra em manter viva uma maneira muito importante de estar no teatro e na vida" foram ainda invocadas por Cristina Reis para justificar o "prazer e o grande gosto" que sente pela "recompensa exterior" que representa o Prémio Pessoa.

Questionada sobre o facto de Luís Miguel Cintra ter abarcado a companhia e o colectivo com o prémio, Cristina Reis disse que a companhia "não é indissociável" de Luís Miguel Cintra e "é ele que faz com que as coisas possam acontecer".

"Luís Miguel Cintra sabe e reconhece que há um conjunto de pessoas e circunstâncias que se reúnem à volta dele e que acabam por constituir um corpo que é indissociável da sua actividade e da sua vida, mas o mérito dele é único", enfatizou.

"Fico muito agradecida com a vida e a actividade que temos conseguido fazer todos juntos, com os seus momentos bons e maus, como tudo na vida", concluiu.

Cristina Reis está n`A Cornucópia desde 1975 e embora se tenha ausentado de Portugal de 1977 a 1979, para fazer um estágio em Berlim, continuou a trabalhar com a companhia.

Tradução, cenário, figurino e encenação são algumas das funções de que é responsável, juntamente com a direcção.


pub