Presidente da República lamenta morte da escritora Mécia de Sena

por Lusa

Lisboa, 20 mar 2020 (Lusa) - O Presidente da República lamentou hoje a morte da escritora portuguesa Mécia de Sena, responsável pela organização, documentação e edição do espólio literário do seu marido, Jorge de Sena.

"Comemorámos no ano passado o centenário do nascimento de Jorge de Sena, um dos grandes escritores portugueses, e agora despedimo-nos de Mécia de Sena, sua mulher, que tinha há pouco completado 100 anos", escreveu Marcelo Rebelo de Sousa numa nota hoje publicada no portal da Presidência da República.

Mécia de Sena, viúva do escritor Jorge de Sena e organizadora da sua obra, morreu no sábado, em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, aos 100 anos, disse à agência Lusa fonte da família.

"Nascida num meio culto do Porto, filha de Armando Leça, irmã de Óscar Lopes, Mécia de Sena cursou Histórico-Filosóficas e casou-se em 1949 com Jorge de Sena, que acompanharia no exílio brasileiro e depois americano, com quem teria nove filhos, e de quem seria a mais zelosa colaboradora e mais tarde herdeira literária, editando numerosos livros inéditos, coletâneas de textos, antologias, volumes de correspondência, um colosso bibliográfico que dá ao mesmo tempo conta do génio omnívoro de Jorge de Sena e da devoção de décadas de Mécia de Sena", refere o chefe de Estado na mesma nota.

Nascida em Leça da Palmeira, em 16 de março de 1920, Mécia de Freitas Lopes Sena era filha do músico e compositor Armando Leça, investigador do "Cancioneiro Musical Popular Português", e irmã do professor, crítico e historiador Óscar Lopes (1917-2013).

Formada em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, detentora do curso do Conservatório de Música do Porto, foi professora, primeiro, e, depois do casamento, em 1949, colaboradora literária de Jorge de Sena.

Mécia de Sena casou-se com Jorge de Sena quando este era um engenheiro civil da Junta Autónoma de Estradas (1948-1959). Partiu com ele para o exílio, quando a ditadura do Estado Novo os cercou.

Fixaram-se no Brasil, onde o escritor ensinou Literatura, e de onde partiu para a Universidade do Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos, antes de se fixar em Santa Barbara, Califórnia, onde foi catedrático de Literatura Comparada.

A morte precoce de Jorge de Sena, em 1978, aos 59 anos, abriu "um terceiro período na vida de Mécia de Sena", deixando-lhe em mãos "uma quantidade monumental de projetos não realizados [do escritor], toneladas (...) de manuscritos, propósitos de livros de prosa e versos, correspondência", segundo o irmão da escritora Rui Silvino de Freitas Lopes.

A partir de então, acrescenta o irmão da escritora, Mécia de Sena assumiu a organização, documentação e edição do espólio literário do autor de "Sinais de Fogo", assim como a promoção e revelação da sua obra, da sua real dimensão, com a preocupação de concretizar "todos os sonhos que eram os do marido".

Todos os títulos surgidos desde então tiveram Mécia de Sena na origem. "A obra dele é imensa", disse a escritora numa carta dirigida em 1991 ao jornal Público, na qual confessava fazer "esforços inauditos para que [seu] marido [fosse] honestamente publicado".

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