Presidente de Associação de Editores alemães pede medidas face a expansão de IA
A presidente da Associação de Editores de Livreiros da Alemanha, Karin Schmidt-Friderichs, defendeu hoje, em Frankfurt, medidas para a proteção da criação intelectual e artística face à ameaça crescente dos modelos de Inteligência Artificial (IA) generativa.
Na conferência de imprensa de apresentação da 77.ª Feira do Livro de Frankfurt, o maior evento profissional para o setor, a responsável da Associação de Editores e Livreiros da Alemanha argumentou que a reunião de milhares de pessoas num evento com 4.000 expositores de mais de 130 países permanece importante para partilha e discussão de ideias.
"Por que é que ainda fazemos isto? [...] Estamos todos aqui por causa da tradição? Penso que não. Gostava de argumentar que não delegássemos o pensamento, mas, em vez disso, nos empenhássemos numa carta de pensamento dialético, uma celebração do discurso e uma celebração da nossa reunião como humanos", afirmou Karin Schmidt-Friderichs, horas antes da cerimónia de abertura da feira, que começa em pleno na quarta-feira e decorre até domingo.
Durante o discurso, Schmidt-Friderichs por várias vezes apelou para que fossem aplicadas medidas em duas vertentes face à expansão da IA e das redes sociais: de proteção do consumidor e do criador, e de taxação das plataformas.
"Uns poucos bilionários decidem cada vez mais que algoritmos apresentam que tipo de informação e não seguem qualquer tipo de lei de imprensa nem assumem responsabilidades pelo que publicam ou alojam. Sob o manto do progresso, poucas empresas com poucos homens poderosos por trás garantiram para si poder que ameaça, mina e erode as democracias e os mecanismos que as sustentam", afirmou a dirigente associativa.
Schmidt-Friderichs lembrou que, apesar deste "progresso", num país como a Alemanha, 20% da população não consegue compreender o significado do que lê, o que significa que "são mais facilmente guiados pelas emoções e manipulados", sem falar de uma fatia ainda mais relevante da sociedade que não sabe distinguir informação real de falsa.
"Apelamos para que haja licenças, incentivos para uma remuneração justa dos dados inseridos no sistema e uma clarificação da proteção de dados", afirmou a presidente daquela associação, estabelecendo uma comparação com a indústria alimentar: "Sabemos em grande detalhe que aditivos vão parar ao nosso estômago no iogurte matinal, mas estamos sem qualquer proteção do cérebro do consumidor para os Instas, Tiktoks e Telegram".
Para Schmidt-Friderichs, "se as plataformas ganham milhares de milhões da publicidade graças ao tráfego, estes milhares de milhões devem ser taxados nos países onde as pessoas alimentam estas plataformas e são seduzidas".
Taxas essas que depois podem ser usadas em "programas de promoção da leitura, literacia mediática, programas de formação contínua, o Kulturpass alemão [programa que atribuiu 100 euros a cada pessoa entre 18 e 24 anos para uso cultural e que vai ser descontinuado a partir de 2026] e justiça social".
"Não podemos não ter um Estado social", afirmou a presidente da Associação de Editores e Livreiros da Alemanha.
Em Frankfurt, Portugal vai marcar presença com mais de meia centena de editoras e um "pavilhão renovado" com o espaço "mais otimizado".
Aquela que é a maior feira do livro do mundo, essencialmente comercial, para compra e venda de direitos, contará também com a representação da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), no pavilhão português, localizado no `Hall` 5.0, com o número A125.
A 77.ª edição da Feira do Livro de Frankfurt tem as Filipinas como país convidado de honra, sob o lema "A imaginação povoa o ar".