Primeiro álbum ao vivo de Patxi Andión foi gravado em Portugal e tem fado
Redação, 26 out (Lusa) -- O novo álbum do músico espanhol Patxi Andión, "Cuatro Días de Mayo", o primeiro ao vivo, gravado em Portugal, no qual inclui a balada "Minh`alma de amor sedenta", do fadista António dos Santos, é editado na segunda-feira.
O álbum antecede as atuações do músico espanhol em Portugal, no âmbito do Festival Misty, marcadas para os dias 05, 07 e 08, respetivamente em Lisboa, Vila do Conde e em Aveiro.
O CD, no qual o músico é acompanhado por uma banda, foi gravado durante os concertos efetuados na Guarda e na Figueira da Foz, em maio de 2011, e é o primeiro álbum gravado ao vivo que edita.
"A minha relação com Portugal, a música e a língua portuguesas é de absoluto amor, e uma paixão, que existe desde a década de 1960", disse o músico em entrevista à Lusa.
Fazendo questão de se expressar em Língua Portuguesa, o "cantautor" madrileno, de ascendência basca, disse à Lusa que sempre viu "Portugal como um território livre, sobretudo depois do 25 de Abril de 1974".
"Muito especialmente depois da Revolução dos Cravos, em que passei a sentir que, de facto, as pessoas gostavam francamente e compreendiam o que eu fazia", disse.
Nos seus recitais em Portugal, afirmou o músico, faz sempre questão de incluir temas em português, como o caso de "Minh`alma de amor de sedenta", de António dos Santos (1919-1993).
O músico espanhol conheceu o fadista português na década de 1960, por intermédio de um amigo.
"Fui até Alfama, conheci-o nessa ocasião e, logo ali, cantámos a noite toda. E sempre que vinha a Lisboa, estávamos juntos. Faço questão, sempre que venho a Portugal, de cantar dois ou três temas do António dos Santos".
Além de António Santos, Andión afirmou a sua admiração por José Afonso (1929-1987), de quem também foi amigo, Fausto e José Mário Branco, "entre muitos outros".
O novo álbum de Patxi Andion, num total de 16 temas, inclui "33 versos a mi muerte", "Una, dos y tres", "Gitarra zahartxo bat", "Padre", entre outras canções, e será a base do alinhamento dos concertos que vai realizar em novembro, apresentando-se apenas com a sua guitarra.
"Una, dos, três" é uma "canção sobre o bairro madrileno do Rastro, onde se realiza uma famosa feira" e onde o músico tem o seu estúdio desde 1973. "É uma alegoria à vida contemporânea", contou.
O músico defende que "a música, quando consegue tocar o íntimo das pessoas -- o que é uma felicidade --, é sempre de intervenção, até porque os tempos mudam mais depressa que as pessoas".
"As pressões humanas são sempre as mesmas, e aconselho sempre que se leia a História de Roma, nomeadamente a do historiador [Sergei Ivanovich] Kovaliov, que parece o jornal das noticias de hoje", afirmou.
Reconhecendo que neste álbum há um "maior número de canções amorosas e confessionais", Andión apontou "Amiga del Corazón", como um tema que tem "origem num contexto social concreto de luta".
"Essa canção tem origem na carta que um amigo meu, que estava preso, recebeu da mulher, na qual lhe dizia que tinha direito a uma outra vida e que ia vivê-la", contou.
"Nos passarán la cuenta", "La jacinta", "...Y es mar", "Com toda la Mar detrás" e "El maestro" são outros temas do repertório de Andión que compõem o álbum.
Patxi Andión, de 67 anos, estreou-se em Portugal em 1969, no programa televisvo "Zip-Zip", de Raul Solnado, José Fialho Gouveia e Carlos Cruz. A sua relação com o regime ditatorial de então não foi fácil, tendo sido expulso pela PIDE, a polícia política do regime, várias vezes.
O poeta José Carlos Ary dos Santos traduziu alguns dos seus poemas, que a cantora Tonicha gravou, ainda antes da Revolução dos Cravos.
O primeiro concerto do músico espanhol em Portugal realizou-se a 24 de março de 1974, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a um mês do levantamento militar que levaria à queda da ditadura e poucos dias antes do I Encontro da Canção Portuguesa, da Casa da Imprensa, que desafiaria o regime com "Grândola, vila morena".
Segundo as crónicas jornalísticas da época, o Coliseu esgotou para ouvir Patxi Andion.
Em 2007, participou no álbum "Para além da saudade", da fadista Ana Moura, produzido por Jorge Fernando.
Em dezembro do ano passado, apresentou "Porvenir", o CD anterior, na Casa da Música, no Porto, e no CCB, em Lisboa, num concerto esgotado.
Na altura, interpretou "Minh`alma de amor sedenta", acompanhado por Jorge Fernando e Custódio Castelo, assim como "Vaga no azul", o fado que compôs para Ana Moura, sobre um poema de Fernando Pessoa.