Primeiro romance da jornalista Ana Sofia Fonseca chega às livrarias

Prémio Gazeta de Jornalismo 2010, com a reportagem de televisão "O meu nome é Portugal", a autora apresenta, aos 33 anos, Como Carne em Pedra Quente, o livro "que sempre quis escrever". A chancela é do Clube do Autor.

Diana Palma Duarte, RTP /
A autora, Ana Sofia Fonseca RTP

Uma mulher apresenta-se presa a algo que lhe provoca dor. Memórias constantes de uma vida que está em suspenso, sem o leitor entender porquê. É assim nas primeiras páginas desta obra.

Aos poucos descobre-se Laura, a protagonista. Com 45 anos e uma doença mortal descoberta tarde. Dentro dela, um universo que a agarra à vida. É dele que Ana Sofia Fonseca fala, ao longo de 150 páginas, entre as dores e desafios do SIDA, epidemia do século XX.

É também África que vem ao de cima, é o amor pelo companheiro Pedro, são o colonialismo e as feridas da geração da guerra.

Ana Sofia Fonseca tem créditos reconhecidos no jornalismo mas quer conquistar agora o meio da ficção porque "sempre escreveu" e contar histórias é o que faz deste os tempos da Universidade.

Quando começou a trabalhar, como jornalista freelancer, escreveu dois livros, resultado de trabalhos de investigação. O primeiro em 2004, é Barca Velha (edições Don Quixote), conta a história deste vinho do Douro.

Em 2009 escreve Angola, Terra Prometida (Esfera dos Livros), retrato vívido dos anos dourados dos portugueses em Angola.

África, tema novamente abordado na reportagem que lhe mereceu o prémio Gazeta 2010, ressurge neste primeiro romance da jornalista.

África é o teu continente de abordagem jornalística recorrente e é com ele que começas na ficção. É de propósito?

"Não. Começei a escrever muito antes do livro Angola, Terra Prometida sobre África e antes de imaginar que iria escrever um livro sobre África. Não sei como se explica . Há uma atração sem explicação".

O ritmo deste romance é vertiginoso. Foi uma nota dominante, um ponto de partida?

"O romance tem o ritmo da cabeça de alguém à beira da morte. Ela está consumida pelas memórias e à beira do abismo. Achei que alguém assim, só pode ter uma escrita vertiginosa. Podia rimar com o que se passa na cabeça de alguém num momento destes".

A protagonista desabafa momentos íntimos e intensos da sua existência relacionados com o sofrimento e as manifestações da doença que é a SIDA. Viveste de perto alguma destas situações descritas?

"Não, sou repórter, passo a vida a contar sobre a vida dos outros. Este livro é o meu cantinho da liberdade e onde me posso aconchegar na imaginação. E posso escrever sobre aquilo que me apetece.Não vivi nada disto e é por isso que gosto de escrever sobre ficção".

Onde queres que este livro te leve?

"Não faço a mínima ideia, na vida os caminhos estão sempre em aberto. Lembro-me de um poema que encontrei quando conheci o México, dizia, dentro de mim todos os poemas se bifurcam. Eu sinto muito isso. Eu quero continuar a escrever ficção, eu estou sempre a escrever, a diferença é entre escrever e publicar mas penso que é para continuar. Este livro está pensado há oito, nove anos, depois de Barca Velha. É uma história construída com muito carinho, com cuidado com todas as palavras, vírgulas, muito olhado. É uma história antiga".

É também sobre os doentes com SIDA. É uma homenagem a alguém?

"Se calhar é sobre todas as pessoas que eu conheci, que fui conhecendo na vida. E de quem fui roubando pequenos pedaços das suas intimidades, das suas vidas e no fundo, essas pessoas também fazem parte da minha”.
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