Projeto artístico em Gondomar recruta desempregados e pessoas com baixa escolaridade
Uma associação lançou em Gondomar o projeto artístico de inclusão social Tum Tum Tum, que pretende inserir no mercado de trabalho, através da música, pessoas dos 18 aos 30 anos, disse à Lusa o coordenador.
De acordo com Hélder Nogueira, o projeto envolve 120 pessoas, decorre no edifício Martim Fernandes, em Rio Tinto, concelho de Gondomar, e tem por objetivo "promover a inclusão social de um conjunto de pessoas que não concluíram o seu percurso escolar ou estão desempregadas".
O projeto de três anos, promovido pela Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal (ATNP), tem o apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional e da Fundação Gulbenkian.
"A ideia é que estes adultos frequentem as nossas oficinas enquanto constroem o seu projeto de vida e, caso tenham o perfil adequado, integrem o nosso curso de formação de monitores", explicou o coordenador.
Numa segunda fase, acrescentou, "os monitores poderão replicar a sua formação noutras instituições e fazer disso a sua atividade profissional".
Tendo como meta fazer entrar "oito dos formandos no mercado de trabalho e 40 em formação profissional nos três anos do projeto", o Tum Tum Tum dá também aos jovens "com potencial artístico" uma outra possibilidade.
"Podem vir a integrar o nosso grupo performativo Xilobaldes - uma banda criada a partir de instrumentos de materiais reutilizados como baldes, bidões ou mangueiras - e poderão ser remunerados", revelou Hélder Nogueira.
Outra curiosidade advém do facto de nas aulas de música não se utilizarem as pautas.
"Não as usamos porque estes jovens não sabem ler pautas. Usamos esquemas visuais para que assim possam seguir a aprendizagem", relatou o coordenador.
Situado no antigo Liceu de Rio Tinto, o edifício multifuncional Martim Fernandes foi reabilitado pela ATNP e, segundo Cláudio Alves, "através de um investimento de 30 mil euros, foi possível começar a albergar projetos de intervenção comunitária".
"Atualmente está entre 65 e 70% reabilitado e, através destes projetos e dos nossos parceiros, estamos ao serviço da comunidade. Vamos continuar a nossa lógica de candidaturas para poder servir ainda mais a população", assegurou o presidente da ATNP.
O projeto artístico de inclusão social tem outra componente que passa pela construção de instrumentos musicais e, com isso, juntar mais-valias aos diversos programas de intervenção social.
Afonso Passos coordena as oficinas de construção desses instrumentos, "contrariando as técnicas de construção que por cá se aplicam e que fazem, por exemplo, com que os músicos profissionais portugueses tenham de ir a Espanha ou a outros países à procura deles", disse.
"No caso dos tambores, a qualidade do que se foi fazendo em Portugal ficou um bocado de lado, dando lugar a um timbre indesejado", lamentou o responsável, revelando haver instrumentos "ditos tradicionais portugueses que foram feitos no Paquistão ou noutros lados".
Sobre o trabalho que fazem os jovens com perfil e recrutados, Afonso Passos afirmou: "Aqui revivem-se as técnicas e materiais que já foram utilizados há muitos anos, aliando a formação à parte da inovação e investigação de materiais".
"Já temos algum material vendido e queremos, no próximo ano, lançar uma marca", disse o também músico e investigador. Acrescentou que em 2017 quer "lançar novos instrumentos construídos nas oficinas" depois da "boa recetividade dos músicos que os compraram".