Projeto revela obras do compositor barroco Carlos Seixas da coleção do Museu da Música

Obras do compositor barroco português Carlos Seixas vão ser gravadas pela primeira vez e apresentadas em concerto, no âmbito de um projeto de parceria entre as fundações Gaudium Magnum e Turchini e o Museu Nacional da Música (MNM).

Lusa /

O projeto visa apoiar gravações de música barroca portuguesa, nunca registadas, com parceiros internacionais, "trazendo à luz um repertório que reflete as influências internacionais em Portugal, durante o período barroco", afirma a Fundação Gaudium Magnum (FGM), que lidera o projeto.

A primeira série de gravações, dedicada à preservação dos "tesouros nacionais" da coleção do MNM, terá o primeiro álbum editado em CD e vinil em 2026. Promovendo a utilização de instrumentos históricos, será usado o cravo Joaquim José Antunes, de 1758, da coleção do museu, "um exemplo da mestria artesanal portuguesa", classificado como tesouro nacional.

A gravação será feita pela cravista francesa Béatrice Martin, professora na Juilliard School, em Nova Iorque, e "parte do diálogo" entre a música de Carlos Seixas (1704-1742) e o contemporâneo António Pinho Vargas, "numa proposta que também aproxima o património barroco da atualidade", segundo a FMG.

Além da gravação, serão apresentados dois concertos: um em Mafra, por Béatrice Martin, no dia 20 de novembro, antecedendo a abertura do MNM, no Real Edifício de Mafra, no dia 22, com comentários do cravista Miguel Jalôto; e o segundo em Nápoles, dois dias mais tarde, na Igreja de Santa Catarina de Siena.

Em Nápoles, o concerto é antecedido por uma conversa com o músico e historiador Paolo Sullo e a historiadora de arte Giuseppina Raggi, do comité científico do Divino Sospiro -- Centro de Estudos Musicais Setecentistas.

O repertório dos concertos inclui obras do padre António Soler (1729-1783), Alessandro Scarlatti (1660-1725) e Domenico Scarlatti (1685-1757), "compositores cuja influência e circulação de estilos ajudam a compreender o ambiente cosmopolita em que Seixas se formou e a contextualizar a rica cena cultural da corte portuguesa onde poderiam, eventualmente, ter sido interpretados", de acordo com a apresentação do projeto.

A estas obras juntar-se-á uma peça contemporânea de António Pinho Vargas.

"Ao identificar estas obras inéditas, o projeto procura não só preservar e divulgar a história musical portuguesa, mas também compreender melhor o seu contexto histórico e cultural", afirma a fundação portuguesa Gaudium Magnum ("Grande Alegria"), no dossier de apresentação.

A FGM pretende "desenvolver um programa abrangente em torno de cada série [de gravações], incluindo palestras por musicólogos ou especialistas de áreas relacionadas com a música, a utilização de instrumentos barrocos restaurados para recriar de forma autêntica os sons e a experiência visual", e colaborar com "instituições internacionais reconhecidas pela sua especialização na área musical, estabelecendo cruzamentos entre música e artes visuais, através de pontos de contacto entre as temáticas musicais e a coleção de pintura da FGM", que inclui obras de artistas como Álvaro Pires de Évora (c.1411-1434), Josefa d`Óbidos (1630-1684) e Almada Negreiros (1893-1970).

Neste âmbito, a FGM estabeleceu uma parceria com a Fondazione Turchini, com sede em Nápoles, Itália, para a gravação e edição discográfica, assim como para a programação associada.

Num encontro com jornalistas, Maria Cortez de Lobão, uma das fundadoras da FGM, e sua copresidente, realçou a importância de se divulgar, contextualizando, obras artísticas portuguesas, às quais é sempre associada uma investigação científica.

A primeira série de gravações é dedicada à redescoberta da obra de Carlos Seixas, "figura central da música barroca portuguesa e influente compositor ibérico do seu tempo", afirmou.

Nesse encontro com jornalistas, o diretor do MNM, Edward Ayres de Abreu, confirmou a existência de repertório inédito do compositor português e salientou o interesse desta "parceria muito colaborativa".

A Fundação Gaudium Magnum, sem fins lucrativos, visa a promoção da cultura, educação, investigação e solidariedade social, atuando como "embaixadora do património histórico e cultural português, ao propiciar o diálogo entre instituições locais e estrangeiras tendo uma atenção especial a projetos que se debruçam sobre a formação da identidade cultural de Portugal entre os séculos XIV e XVIII".

A Fundação, com sede em Lisboa, foi criada em 2018, numa iniciativa de Maria e João Cortez de Lobão, seus copresidentes.

A Fondazione Turchini - Centro de Música Antiga Pietà de` Turchini propõe-se "ser um centro agregador e transdisciplinar entre músicos, ensembles, académicos e investigadores, dedicado ao património musical e teatral napolitano dos séculos XVI a XVIII, e às suas repercussões na produção musical europeia contemporânea". 

A fundação napolitana é a detentora da discográfica Turchini Records, centrada na edição de música das escolas napolitana e europeias, em articulação com a criação e produção musical contemporânea.

A recente criação da Turchini Records enquadra-se nas iniciativas que assinalam o tricentenário da morte de Alessandro Scarlatti e o 340.º aniversário do seu filho Domenico Scarlatti, que foi mestre da Capela Real do rei João V, duas "figuras-chave da música barroca europeia".

 

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