Quadro de Tintoretto em Santo Tirso reúne historiadores de arte em colóquio

por Lusa

Santo Tirso, Porto, 16 nov (Lusa) - O quadro "A Adoração dos Reis Magos", do Mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, cuja autoria esteve por confirmar durante anos, foi pintado por Jacopo e Domenico Tintoretto, e vai reunir especialistas em colóquio, no Museu Abade Pedrosa, no sábado.

"Esta é uma obra dos Tintoretto, pai e filho, Jacopo e Domenico Tintoretto", assegurou à Lusa o historiador de arte Vítor Serrão, especialista da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, explicando que, a "partir de determinada altura da sua longa carreira, Jacopo começou a trabalhar com discípulos", e este quadro, "pintado já na fase final da sua vida, depois de 1580, foi acabado pelo filho Domenico".

O quadro "A Adoração dos Reis Magos", exposto no Mosteiro de Singeverga, no distrito do Porto, vai ser tema de um colóquio no sábado no Museu Municipal Abade Pedrosa, com a presença de diversos especialistas em história da arte.

"Trata-se de um trabalho de grande qualidade e que está bem documentado, sabendo-se de onde veio e cuja peritagem feita em 2007 [que envolveu técnicos do Museu Nacional de Arte Antiga] não deixa dúvidas", acrescentou Vítor Serrão sobre um trabalho que incluiu "um estudo material e laboratorial, com o apoio da Universidade Católica do Porto, que atesta ter sido uma pintura do Jacobo, em final de carreira".

Sublinhando ser "muito importante para Portugal ter um quadro destes, de valor incalculável, e que em leilão atingiria um valor extraordinário", Vítor Serrão elogiou o facto de a obra "não estar no mercado", mas sim "num local público, (...) muito bem montado, para que toda a gente o possa ver".

Questionado sobre o que identifica a obra como sendo o pintor do século XVI, o historiador de arte explicou que "o facto de, em Portugal, haver muita arte italiana do Renascimento, mas florentina, romana, do Veneto, praticamente não haver nada" ajuda a interpretar o trabalho.

"Esta pintura é do norte de Itália e o seu autor tem um vocabulário artístico muito próprio, porque foi a Roma ver a obra de Miguel Ângelo, mas manteve fidelidade às características da pintura de Ticiano [Vecellio], do Norte", acrescentou.

"A obra tem uma luz e uma cor que a tornam um tipo de pintura muito peculiar, que o faz ser um quadro inconfundível dentro de um determinado tipo de escolaridade do maneirismo italiano", argumentou.

Continuando o relato sobre a pintura a óleo com 5,24 metros de cumprimento e 2,25 metros, Vítor Serrão disse ser "uma obra do género `fa presto` [muito rápida], como se dizia na época", precisando que o "quadro tem momentos muito bons, surgindo os reis magos à esquerda, enquanto o retrato do mercador que o mandou fazer está à direita, junto à Virgem Maria".

O quadro foi salvo de uma igreja que foi destruída na época barroca, passou depois de mão em mão e acabou por vir parar a Portugal, como despojo de guerra, provavelmente durante a II Guerra Mundial", relatou o especialista.

O quadro "A Adoração dos Reis Magos" é única obra de Tintoretto em Portugal e permaneceu, durante décadas, na posse dos familiares do banqueiro lisboeta Jaime Pinho.

Além do quadro presente em Singeverga, Tintoretto pintou mais dois com o mesmo tema, encontrando-se um deles no Museu do Prado, em Madrid, o outro na Scuola Grande di san Rocco, em Veneza.

Jacopo Robusti, mais conhecido por Tintoretto, foi um dos mais radicais pintores do maneirismo. Apelidado de "Il Furioso" pela energia das suas telas e pelos efeitos de luz que incluía tornou-se num dos precursores do Barroco.

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