"Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", obra-prima de Edward Albee, estreia-se sábado no D. Maria II

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Lisboa, 25 nov (Lusa) -- Um clássico da dramaturgia contemporânea, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", do norte-americano Edward Albee, apresenta-nos a relação de amor-ódio de um casal de meia idade, George e Martha, numa noite de agressões, jogos perigosos e revelações.

Escrita por Albee em 1962 e transposta para o grande ecrã por Mike Nichols, em 1966, com Elizabeth Taylor e Richard Burton como protagonistas, a peça estreia-se agora, no sábado, no Teatro Nacional D. Maria II, com Maria João Luís e Virgílio Castelo na pele de um dos casais mais memoráveis da dramaturgia do século XX, numa encenação de Ana Luísa Guimarães.

A ação desenrola-se na sala de estar de George, e Martha -- ele, professor do departamento de História de uma universidade, e ela, a filha do reitor -- que, regressados de uma festa, esperam visitas: um casal mais novo, Nick (Romeu Costa), professor de Matemática recém-chegado à mesma universidade, e Honey (Sandra Faleiro), a sua mulher.

O título da peça, "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" é um trocadilho com o apelido daquela escritora britânica e a palavra inglesa "wolf", que significa lobo, e a pergunta que perpassa as três horas da peça é, na prática, "quem tem medo do lobo mau?" -- representando o lobo mau os medos, os fantasmas pessoais de cada um.

"O inferno pode ser uma sala de estar confortável e um casal insatisfeito", escreveu Edward Albee a propósito destas personagens que, atacando-se e humilhando-se de um modo muitas vezes cruel, expõem também um lado comovente, apresentando-se, no final, não como hienas com instintos predadores, mas sim como seres humanos com fragilidades, ilusões desfeitas e mágoas profundas.

São casados há 23 anos e Martha afirma: "Podemos continuar para sempre e é tudo digerível".

Ana Luísa Guimarães define "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" como "uma peça sobre os medos, sobre acabar com os medos, exorcizar os medos" e foi essa uma das razões porque decidiu encená-la, apesar de sentir o peso de trabalhar uma peça que faz parte do património dramático internacional e que tocou gerações sucessivas de espectadores.

"À primeira vista, é sobre um casal e os seus convidados, mas também é uma peça muito política, porque através destas duas personagens se fala de coisas mais vastas: reflecte-se sobre o que é a verdade e a ilusão, sobre como as pessoas comunicam umas com as outras, com jogos de poder, de manipulação, de mentira, de domínio do outro, de não quererem escutar o outro", disse à Lusa a encenadora.

A peça funciona -- prosseguiu -- como "uma lupa para as relações pessoais. Se quisermos olhar com verdade para estas personagens, podemos reconhecer-nos aqui e ali".

Albee afirmava que todas as suas peças eram sobre "pessoas que perdem o barco, que acabam as suas vidas com arrependimento pelas coisas que não fizeram, em comparação com as que fizeram... que passam a maior parte das suas vidas como se fossem morrer".

No caso desta peça, ela debruça-se sobre as ficções com que tentamos justificar e dar sentido às nossas vidas e sugere que é possível deixar cair essas máscaras de proteção e reconstruirmo-nos a partir dos seus cacos.

Até 29 de janeiro de 2012, "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" pode ser vista na sala Garrett do D. Maria II, de quarta-feira a sábado às 21:00 e ao domingo às 16:00 (exceto nos dias 23, 24, 25 e 31 de dezembro e 01 de janeiro).

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