"Realidade é amiga dos caricaturistas fornecendo amplos motivos de trabalho", Augusto Cid
Porto, 06 Mai (Lusa) - O cartunista Augusto Cid, vencedor do Grande Prémio do 10/o PortoCartoon World Festival, raramente sofre de escassez de temas para as suas caricaturas, porque "infelizmente a realidade é pródiga em acontecimentos e personalidades caricaturáveis".
"Nesta altura não faltam temas e são muitíssimo mais frequentes as semanas em que me vejo aflito para escolher o assunto, porque os motivos são muitos e apenas posso escolher um", disse o cartunista do semanário Sol à Lusa.
O cartunista, que desde o final dos anos 60 publica regularmente em alguns dos principais jornais e semanários portugueses, venceu o 10/o PortoCartoon World Festival, organizado pelo Museu Nacional de Imprensa (MNI), do Porto, com o trabalho "A chama olímpica", publicado pelo Sol na sua edição de 05 de Abril, que apresenta um atleta chinês com a tocha olímpica em que as chamas são monges tibetanos.
Cid disse que poucas vezes tem mandado trabalhos a concursos, embora já tenha participado uma vez no Porto Cartoon, há alguns anos com um desenho que até ganhou uma menção honrosa.
"Mandei este ano porque no jornal insistiram comigo e, por descargo de consciência, acabei por enviar aquele desenho porque era, dos meus trabalhos mais recentes, o que melhor se adequava ao tema do ano, os Direitos Humanos", disse o cartunista.
Augusto Cid referiu que normalmente a sua produção se centra mais na actualidade nacional do que na internacional, porque a sua principal preocupação é focar factos que as pessoas identifiquem imediatamente, o que é mais fácil com acontecimentos da política nacional.
"Ultimamente, os temas que tenho tratado da actualidade internacional são sobretudo as eleições americanas e Fidel Castro, que têm estado na ordem do dia", disse.
Augusto Cid referiu que normalmente faz vários esboços, por vezes sobre vários temas, que vai trabalhando mais profundamente até que um acaba por se impor sobre os outros.
"Recordo que nessa semana [de 05 de Abril] não havia grandes acontecimentos nacionais e os monges tibetanos estavam em todos os jornais e telejornais, pelo que acabei por escolher este assunto sobre os outros", revelou.
Nascido em 1941, no Faial, Açores, Augusto Cid frequentou o curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo publicado os seus trabalhos em numerosos jornais e revistas, nomeadamente A Parada da Paródia, A Mosca, Diário de Lisboa, Lorentis, Observador, Século, Vida Mundial, O Jornal Novo, Povo Livre, A Tarde, O Dia, O Diabo, Semanário, O Independente, Focus, Grande Reportagem e Sol.
Colaborou também com a estação televisiva TVI.
A investigação do desastre aéreo de Camarate, que vitimou várias pessoas, entre as quais Francisco Sá Carneiro, então primeiro-ministro, e Adelino Amaro da Costa (ministro da Defesa), foi uma das causas que abraçou, tendo feito parte das várias comissões de inquérito que investigaram este acontecimento.
Augusto Cid, que tem vários livros publicados, disse à Lusa que tem em fase de gestação um novo livro.
"Quero reunir os melhores cartoons que fiz desde 1974 até agora, mas ainda tenho que arranjar alguém que faça textos de enquadramento de modo a que o livro possa ser lido pelas novas gerações que não viveram os acontecimentos dos últimos 35 anos, caso contrário não poderão compreender os desenhos, já que não conhecem os factos a que eles se referem", disse.
O PortoCartoon-World Festival é considerado pela FECO (Federation of Cartoonists Organisations) um dos três principais festivais de desenho humorístico do mundo.
A FECO é a mais importante organização internacional de cartunistas representando mais de dois mil artistas de 30 países.
O segundo prémio do 10/o Porto Cartoon World Festival foi atribuído ao turco, Muhittin Koroglu, e o terceiro a dois artistas (ex-aequo), ao brasileiro Dalcio Machado e ao sul-coreano Taeyong Kang.
O festival deste ano contou com a participação de 508 cartunistas de 70 países, o que resultou em dois mil desenhos, em que os principais temas, no âmbito dos Direitos Humanos, foram os jogos olímpicos e os problemas ambientais.
O Brasil foi o país que apresentou o maior número de participantes, seguido por Portugal, Irão e Turquia.
Para além de Luís Humberto Marcos, director do MNI, fizeram parte do júri Marlene Pohle, presidente da FECO (Alemanha), Xaquin Marin, director do Museo de Humor de Fene, da Espanha e Júlio Dolbeth, representante da Faculdade de Belas Artes do Porto.