Realizador português estreia filme baseado em livro de Mia Couto
O realizador português José Carlos Oliveira vai estrear quinta-feira em Maputo o seu filme "Um rio", numa adaptação da obra literária "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra" do escritor moçambicano Mia Couto.
O filme retrata a questão do preconceito racial existente em duas famílias ricas, portuguesa e moçambicana, cujos filhos estão apaixonados, e a ligação do crime organizado às elites de Moçambique.
"Um rio" denuncia igualmente a falta de transparência nos critérios de distribuição de terras em Moçambique, associado à demonstração do poder da ancestralidade por parte da família moçambicana.
Em declarações à agência Lusa, José Carlos Oliveira afirmou que a película, que não segue à risca a obra de Mia Couto, aborda a problemática do racismo "que se manifesta muitas vezes em famílias da classe média-alta nos dois países".
"É uma temática que sempre me incomodou imenso. O racismo acontece por medo, ignorância e má formação e torna-se mais grave quando se manifesta em pessoas com algum nível de compreensão das coisas", acrescentou o realizador português.
O cineasta produziu recentemente, em Moçambique, o filme "Preto e Branco", uma película que relata a guerra colonial entre o Estado português e a FRELIMO, partido no poder desde a independência de Moçambique, em 1975.
Esta é a primeira obra de Mia Couto adaptada para o cinema, mas dois livros seus já tiveram versões no teatro feitas por grupos de Portugal e de Moçambique.
Mia Couto, o escritor moçambicano com mais livros traduzidos, tem igualmente denunciado nas suas obras a questão do preconceito racial em Moçambique, sobretudo na classe intelectual do país.
A propósito, José Carlos Oliveira defendeu a necessidade de se avançar com um debate "franco e aberto" sobre a matéria, tanto em Moçambique como em Portugal.
"Quero contribuir para que as pessoas debatam o assunto nos dois países, pois, é necessário termos a hombridade de nos respeitarmos uns aos outros, apesar da nossa cor da pele", defendeu Oliveira.
Mia Couto mostrou-se "feliz" com o facto de os seus livros poderem sugerir a produção de outras obras, mas sublinhou que se "distanciou" da produção do filme.
"Fico feliz que os meus livros tenham um poder de sugestão para as pessoas produzirem outras obras. Dá-me um contentamento muito grande", disse à Lusa o autor de "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", publicado em 2002.
"Mas desde o princípio, mantenho uma relação distante, pois, não quero ter a pretensão de que o filme deva ter como base meu o livro", acrescentou.
A produção do filme, que durou dois anos, contou com a participação de actores portugueses e moçambicanos, nomeadamente Ana Magaia, a decana das actrizes de Moçambique.
A estreia do filme, quinta-feira, em Maputo, será prosseguida com a sua apresentação pública nas salas de cinema em Portugal, na próxima semana.