DR - Carlos Oliveira (à esquerda) e Bruno Prates Ferreira (à direita) ao lado da escultura "Manguito"
Após 150 anos do surgimento desta personagem representativa do povo, o Zé Povinho continua a servir como despertar de alma nos 'cartoons' de Bruno Prates Ferreira ou nas esculturas de Carlos Oliveira.
Já Carlos também considera a sua arte interventiva, partindo como exemplo uma obra recente que passa por um planeta e um espremedor de laranjas.
"Está a mão humana a fazer força e a espremer este mundo ao máximo", descreve o escultor, comparando que "isto poderia ser uma outra figura do movimento do Bordalo Pinheiro".
Este ceramista e cartoonista deu vida pública ao Zé Povinho pela primeira vez no dia 12 de junho de 1875, nas páginas centrais de "A Lanterna Mágica". De camisa, colete e chapéu, passou para o imaginário português como personagem representativa do povo, explorada e crítica de políticos.
Mesmo sendo de Lisboa, Rafael Bordalo Pinheiro deixou raízes noutra terra, com a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. A cidade da região Oeste manteve viva a memória do artista e do Zé Povinho.
"Eu fiz muitos cagões, que na altura tinham muita saída, e manguitos", recorda Carlos Oliveira, que cedo trabalhou nas fábricas locais de cerâmica, enquanto Bruno Prates Ferreira lembra que foi "muito bafejado pelo estudo que era feito sobre a obra de Bordal Pinheiro".
"Tenho o manguito preso com um cadeado"
Numa conversa ao telefone, em que a Antena 1 juntou os dois artistas, Carlos e Bruno explicam que conheceram-se há uns anos, ficaram amigos e unidos pelas tertúlias que fazem ambos para discutir o estado do país e do mundo.
Nos últimos tempos, nasceu a vontade de reavivar uma escultura que Carlos Oliveira acabou por ter exposta, há dois anos, na residência oficial do Presidente da República, o Palácio de Belém.
"Tenho o manguito preso com um cadeado", confessa o escultor e ceramista, dizendo ter "medo de um dia destes pegar nele e sair com ele outra vez à rua".
A inquietação que sente incentiva a dita vontade e Bruno já desafiou Carlos a soltá-la este ano, mas por agora sem datas.
"Isto do manguito ficava bem numa perspetiva de manguito parade, em vez de estar aqui só uma peça única", explica Bruno, apontando que podiam desafiar "outros autores e criadores a poderem ilustrar o seu próprio manguito".