Renovação urbana do Porto sofreu com afastamento do Marquês
O afastamento do Marquês de Pombal do poder determinou também o fim de um processo de renovação urbana iniciado no Porto após o terramoto de 1755, disse hoje o investigador de arquitectura e história urbana Joaquim Ferreira-Alves.
"Morreu D. José, acabou o Marquês e voltamos ao percurso de uma cidade construída numa tradição de imobilização dos processos", disse o docente da Faculdade de Letras do Porto, que falava no seminário "O Porto após o terramoto de Lisboa de 1755".
O investigador salientou que "qualquer princípio de regularidade só é possível se houver um poder forte que actue directamente sobre a totalidade da área a intervir. Se estiver dependente da iniciativa particular para completar um plano, esse plano será obrigatoriamente desvirtuado".
O terramoto de 1755 teve pouco impacto no Porto, mas a cidade "beneficiou indirectamente" da nova política urbana pombalina, num trabalho realizado sob a orientação de João de Almada, parente do próprio Marquês.
A primeira acção com repercussões urbanas no Porto foi a criação da Junta das Obras Públicas, que iniciou funções em 1763 e ficou encarregue de elaborar planos e executar obras na cidade, financiadas por um imposto pago pela Companhia de Agricultura e Vinha do Alto Douro, até 1806.
A Junta de Obras Públicas [com vagas semelhanças à actual Sociedade de Reabilitação Urbana] foi um organismo criado por João Almada por várias razões, a primeira das quais a preocupação de "disciplinar a construção extramuros" da muralha fernandina.
João de Almada fez aprovar em 1784 um plano de melhoramentos da cidade que previa uma "vasta empresa de regularização do velho burgo medieval e do seu conveniente engrandecimento (Ó) com grandes demolições que tomaram possíveis traçados desejados já em 1760".
Esta renovação urbana assentou no reperfilamento de algumas ruas e no desenho de edifícios simétricos, numa regularidade que acabou subvertida, sobretudo a partir de meados do século XIX, com a ampliação em altura de muitos dos prédios.
Noutros casos, os projectos nunca chegaram à concretização, assinalou Fernanda Alcântara, arquitecta e docente universitária.
O professor-assistente da Faculdade de Letras do Porto Rui Tavares investigou os efeitos do terramoto de 1755 nesta cidade, tendo concluído que os estragos foram diminutos.
à Lusa, Rui Tavares disse que as referências históricas "mais precisas" aludem apenas à destruição da Cadeia da Relação e da Capela de S. Roque.
Inácio António Henkel, um pequeno comerciante do Porto, deixou também registo escrito do que aconteceu, referindo estragos em alguns edifícios e o regresso ao Douro de três navios que iam sair para o Brasil por alegado efeito de um tsunami.
"É certo, contudo, que os maiores estragos aconteceram na Cadeia da Relação e na Capela de S. Roque, que mais tarde foram reconstruídas", reiterou Rui Tavares, referindo que também não houve registo de mortos.
Aliás, só à terceira sessão da câmara após o terramoto se falou do assunto, de acordo com Rui Tavares.
Na acta da terceira sessão pós-terramoto, anuncia-se a realização de uma procissão anual, a 01 de Novembro, para agradecer a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Porto, por a cidade não ter sido destruída.