Resistência dos tabiques é o grande achado do projeto "Viseu Património"

por Lusa

Viseu, 13 abr (Lusa) - A resistência dos tabiques dos edifícios do centro histórico de Viseu são o maior `achado` do primeiro ano do `Viseu Património`, um projeto de investigação aplicada a pensar numa eventual classificação daquela zona na lista de Património da Humanidade da UNESCO.

De acordo com o coordenador do Viseu Património, Raimundo Mendes da Silva, este primeiro ano de investigação tem sido essencialmente de descoberta do centro histórico de Viseu para todas as gerações.

"Este é um processo claramente de descoberta, que não pode esquecer este património mais formal, matricial e que geralmente está mais valorizado", sustentou.

Entre as descobertas deste primeiro ano de investigação aplicada estão os tabiques, uma espécie de parede interior estreita que separa compartimentos e que, neste caso, é feita em madeira.

"Os tabiques têm sido a grande descoberta em Viseu. Os tabiques em Viseu, vai-se lá saber porquê, ainda havemos de descobrir, são de uma resistência absolutamente notável: são diferentes", apontou o investigador.

O exemplo mais emblemático destes tabiques singulares é o edifício do Orfeão, que o Município de Viseu irá reabilitar numa ótica sustentável.

"O Orfeão tem uma história um pouco efabulada, mas não tanto como isso, de que por várias vezes se tentou destruir o edifício e não se conseguiu. Este é um edifício que auto resiste à destruição", referiu, informando ainda que foram realizados vários ensaios neste local.

"Partimos os discos todos da rebarbadora e não conseguimos cortar, depois usámos outros meios mais violentos. Isto quer dizer que os tabiques são singulares e que o esforço de demolição e substituição é muito significativo e não faz sentido, porque há ali material de muita qualidade", contou.

Raimundo Mendes da Silva realçou a importância de se reabilitarem edifícios, contrariando as mentalidades que continuam a defender que construir de novo será mais fácil e menos dispendioso.

"Dizer que é mais fácil demolir e fazer de novo é uma questão de cultura geracional e não é outra coisa. Em Viseu, não vale a pena substituir tabiques por blocos térmicos, pois é mais barato manter os tabiques e melhorá-los, do que estar a demolir", defendeu.

Para o professor, a reabilitação exige alguma sensibilidade e muito aconselhamento, para que se perceba o que está bom ou não, o que é identitário, o que tem de se preservar e o que é evolutivo.

Exige ainda que os construtores mudem de paradigma, olhando de outra forma para a reabilitação.

"O desafio é encontrar uma solução que respeite a questão energética e que simultaneamente respeite outros valores que são os identitários e onde as pessoas se reconhecem. As equipas nas ruas falam com as pessoas e há um processo de sensibilização e que tem corrido bem", destacou.

Nesta questão da reabilitação, apontou também um conflito que não se resolve pela lei, mas de uma perspetiva pedagógica, aludindo ao confronto entre o limite de liberdade individual e o interesse coletivo.

"Esta é a questão chave: posso ou não fazer? Pode, mas faça noutro sítio onde não esteja a usar o valor coletivo dos outros e esta é uma questão pedagógica que se resolve numa geração", esclareceu.

O coordenador do `Viseu Património` considerou ainda essencial que se pense se a reabilitação do centro histórico é feita a pensar em quem lá vive ou em quem lá vai viver.

"Esse é mais um exercício difícil para quem faz um mandato municipal muito curto, porque tenho de estar sempre a reabilitar para quem cá vive, pois as pessoas têm de ter boas condições de vida, mas tenho de estar a pensar em reabilitar para quem cá vive pensando em quem cá vai viver. A UNESCO nunca quereria manter Viseu ou outra cidade qualquer com um centro histórico do século XII, em que as pessoas vivessem nas condições do século XII", justificou.

No final do primeiro ano do plano de ação Viseu Património, o investigador destacou que este trabalho não visa a elaboração de um manual de reabilitação, já que "há muitos manuais excelentes e não faz sentido".

"O que faz sentido é fazer um memorando de reabilitação e é isso que estamos a tentar fazer. Um apontador para a informação, uma janela sobre aspetos que nos parecem que são essenciais, sabemos que não são exaustivos, mas que nos parecem essenciais do ponto de vista da identidade da reabilitação em Viseu e ferramentas para ajudar", concluiu.

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