Rússia - Filme de ficção sobre uma família parecida com a do Presidente Putin posto à venda no meio de protestos

Moscovo. 13 Fev (Lusa) - No dia de São Valentin, os russos poderão adquirir um filme em DVD que promete ser um êxito porque os protagonistas deste filme de ficção são muito semelhantes a Vladimir Putin e sua família e porque a estreia ficou marcada por incidentes.

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Anatoli Voropaev, produtor do filme, nega categoricamente que as personagens do seu melodrama "Beijo não para a imprensa" tenham como protótio pessoas reais, e muito menos Putin e a sua Amília.

"É a história de uma mulher russa, esposa e mãe que, como milhões de mulheres deste país, compartilha a vida com um homem que dedica mais tempo ao trabalho do que à sua família", explicou Voropaev nunca conferência de imprensa realizada após a primeira apresentação do filme num dos cinemas de Moscovo.

Segundo ele, "foi nossa intenção mostrar a vida de um político através dos olhos da sua mulher, para quem o seu esposo é antes de mais um homem e o pai de suas filhas".

A ideia do filme surgiu em 2001, a sua rodagem terminou em Fevereiro de 2003, mas o DVD só agora é lançado porque Voropaev não quis trabalhar no projecto enquanto ocupou cargos públicos.

"Em 2002, fui mobilizado para trabalhar no serviço público e não queria que mais alguém realizasse esse projecto", sublinhou ele, que, até finais do ano passado, ocupou o cargo de vice-governador, primeiramente, da região de Tula e, depois, da de Stravopol.

"É melhor assim, porque a sociedade russa já amadureceu para entender o filme correctamente", assinalou Voropaev, que acabou por reconhecer indirectamente que se trata de uma história sobre o senhor do Kremlin.

O personagem principal de "Beijo não para a imprensa" é de Leninegrado (hoje São Petersburgo e terra natal de Putin), licenciado em Direito (tal como o Presidente), que fala bem alemão (como Putin), pratica sambo (luta russa muito semelhante ao judo, desporto preferido do Presidente) e que faz uma brilhante carreira política.

O nome do herói, Alexandre Alexandrovitch Platov, cujo nome e patronímico coincidem, como com os de Vladimir Vladimir Putin, trabalhou vários anos como funcionário da embaixada soviética, assim como Putin, que espiou para o KGB na República Democrática Alemã.

A esposa de Platov, Tatiana, tal como a de Putin, Ludmila, é de Kalininegrado e ambos os casais têm duas filhas. São também muito semelhantes o episódio do primeiro encontro entre Platov e a esposa e a história do primeiro encontro de Putin e Ludmila relatada pelo Presidente nas suas memórias.

Os militantes do Partido Nacional-Bolchevique, força política proibida pelas autoridades russas, não tiveram dúvidas quanto aos objectivos da película e, na cerimónia de estreia, levantaram faixas de pano onde se podia ler: "Putin é um criminoso!" e lançaram folhas volantes onde acusam o dirigente russo de ter destruído as liberdades na Rússia, assassinado jornalistas e cidadãos, falsificado eleições.

A numerosa plateia que assistia à estreia aplaudiu efusivamente a acção política.

A polícia deteve dois militantes do Partido Nacional-Bolchevique que gritavam: "Putin é o carrasco de Beslan!", "Putin é o carrasco da liberdade!", "Liberdade para os presos políticos!".

Os detidos foram levados a tribunal, irão ser julgados por "extremismo político" e poderão incorrer numa pena até dois anos de prisão.

A crítica especializada também não está a receber bem o melodrama.

"O filme sobre a juventude do Presidente pode ser visto mas se o desejo for muito grande", escreve o diário Nezavissimaia Gazeta.

"O filme foi rodado nas melhores tradições do pior cinema russo", considera o diário electrónico Gazeta.ru.

Os órgãos de informação russos chamam a atenção para o facto de o lançamento do filme ocorrer durante a campanha para as eleições presidenciais, marcadas para 02 de Março.

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