S. João da Madeira vai ter a "única coleção de Arte Bruta da Península Ibérica"

por Lusa

Os colecionadores Richard Treger e António Silvestre acordaram sediar em São João da Madeira aquela que definem como "a única coleção de Arte Bruta da Península Ibérica", com 600 peças que abrangem também arte vudu haitiana e crucifixos contemporâneos.

Em causa está o protocolo segundo o qual os proprietários da coleção Treger/Saint Silvestre fixam as suas peças num local com "total garantia de salvaguarda e visibilidade", enquanto a Câmara Municipal de S. João da Madeira, por sua vez, confere "qualidade e dimensão" ao polo de arte contemporânea do centro "Oliva Creative Factory".

Estando já assinado o protocolo, António Silvestre espera agora que a construção da Oliva se conclua "o mais depressa possível", porque, quando se verificar a sua abertura ao púbico, "S. João da Madeira vai ser o único município da Península Ibérica onde se pode ver Arte Bruta".

A colaboração entre a autarquia e os dois colecionadores de Paris tem um prazo de apenas 36 meses, mas, tendo em conta que o acordo é sucessivamente revogável por igual período, António Silvestre declara-se pronto a deixar as suas obras em S. João da Madeira "por 100 ou 200 anos".

"Esta coleção não foi criada para nosso uso pessoal, mas para ser vista por toda a gente", explica. "Não pode ser enfiada num cofre".

Englobando um total de quatro núcleos, o espólio Treger/Saint Silvestre é particularmente reconhecido pela sua componente de Arte Bruta, no que a expressão se refere à categoria das obras concebidas sem qualquer influência do sistema artístico tradicional ou profissional.

A designação aplica-se, por isso, às produções mais espontâneas de autores como crianças, doentes mentais ou criminosos, sendo que, no caso da coleção a expor na Oliva, nela predominam pinturas e esculturas criadas em hospícios e hospitais psiquiátricos.

António Silvestre admite, contudo, que "a Arte Bruta ainda é algo que pouca gente conhece" e, realçando que isso se verifica mesmo entre os profissionais da cultura, atribui essa circunstância ao facto de os autores das obras assim classificadas "viverem num mundo paralelo".

"A maior parte destas criações só são encontradas depois da morte dos autores", revela, "porque eles nunca as mostraram ou comercializaram antes".

É por essa peculiaridade que o presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira acredita que a parceria com os proprietários da coleção Treger/Saint Silvestre "terá certamente impacto ao nível da sedução de turistas internacionais".

Considerando que a Oliva passará a exibir não apenas obras "singulares" de Arte Bruta, mas também peças raras da Arte Vodu do Haiti e uma coleção incomum de Crucifixos Contemporâneos, Ricardo Figueiredo defende que a coleção proporcionará ao público "uma oportunidade rara" para apreciar criações poucas vezes disponíveis em galerias e museus.

"O Aeroporto Francisco Sá Carneiro recebe sete milhões de passageiros por ano, na sua maioria turistas, e muitos dos que desembarcam aí virão de propósito à Área Metropolitana do Porto para visitar esta exposição", anuncia. "As referências da Arte Bruta no mundo são Lausanne, Lille e, agora, S. João da Madeira, porque é isto que vai ficar no mapa mental dos interessados por estas temáticas".

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