"São João de Deus" de Murillo restaurado e exposto em Madrid
O Museu do Prado, em Madrid, expõe a partir de quarta-feira a obra "São João de Deus", do século XVII, em que o pintor barroco Murillo retratou o santo português e que foi alvo de um exaustivo processo de restauro.
A obra, que o pintor espanhol terminou em 1672 e que é considerada um dos exemplos mais importantes do barroco de Espanha, narra um milagre na vida de João de Deus, um santo português que viveu grande parte da sua vida em Granada e que, nessa época, gozava de grande popularidade.
Murillo, que usa a luz e a obscuridade para dar dramatismo à obra, retratou o "milagre" que ocorreu quando o arcanjo Rafael acode em exílio do santo que, depois de tomar em ombros um mendigo para o transportar para o convento, não aguenta o peso e cai de joelhos.
Trata-se de uma das quatro obras que Espanha ainda conserva das oito que Murillo pintou para a Irmandade da Santa Caridade, sendo considerado um exemplo particularmente importante dos trabalhos de misericórdia através dos Evangelhos e da vida dos santos.
A fama e qualidade dos quadros transformou-os em peças cobiçadas em toda a Europa, tendo quatro delas sido confiscadas e retiradas de Espanha por tropas do imperador francês Napoleão.
Essas quatro obras estão agora na Galeria Nacional, em Londres, na Galeria Nacional de Arte, em Washington, na Galeria Nacional de Otava (Canadá) e na Ermida de São Petersburgo (Rússia).
O quadro "São João de Deus" conseguiu permanecer em Espanha, ainda que passagens por três espaços diferentes, ao longo dos séculos, o tenha deixado parcialmente danificado.
Rafael Alonso, responsável pelo restauro da obra, disse à agência Lusa que o trabalho foi "um verdadeiro desafio profissional", em particular porque o quadro tinha já sido alvo de várias tentativas de restauro "pouco afortunadas", nos séculos XIX e XX.
Segundo explicou, o objectivo central do restauro foi a "eliminação de danos na pintura, a integração de falhas na pintura original mediante técnicas reversíveis à base de aguarela e óleo e a limpeza dos vernizes".
"Foi mais complicado porque estava num estado de conservação muito delicado como consequência dos danos produzidos nas sucessivas mudanças que teve a obra", disse, aludindo a restauros e "limpezas muito fortes" no século passado que produziram danos na superfície e desgastes de cor.
Daí que ao longo dos 14 meses que trabalhou na obra tenha procurado - usando novas tecnologias de restauro como os raios ultra-violetas - "recuperar o que se perdeu", com técnicas reversíveis que permitissem "respeitar o estado de conservação da obra".