Sara Barros Leitão estreia "Teoria das Três Idades" no Teatro Rivoli

por Lusa

Porto, 18 jun (Lusa) -- O espetáculo "Teoria das Três Idades", criado e interpretado por Sara Barros Leitão, estreia-se hoje, no Teatro Municipal Rivoli, no Porto, após um processo de pesquisa e investigação nos arquivos do Teatro Experimental no Porto.

Inserido na programação do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), o espetáculo estreia-se hoje, pelas 21:30, dia que marca o 65.º aniversário do TEP, sendo reposto pelas 19:00 de terça-feira. "Teoria das Três Idades" parte do arquivo da companhia portuense, para olhar a história do teatro português, e abordar um lado mais pessoal.

O trabalho começou no início de 2017, quando Barros Leitão estava a trabalhar na produção do TEP "O Grande Tratado da Encenação", inspirado nos anos 50 do Porto, pelo que Gonçalo Amorim, diretor artístico da companhia portuense e do FITEI, pediu ao elenco para "ir pesquisar e perceber o contexto ao arquivo", contou a criadora à agência Lusa.

"Nunca mais de lá saí. Comecei a ler o arquivo e a ficar muito entusiasmada. (...) O rumo [da peça] acabou por ser outro, mas eu fiquei sempre muito obcecada pelo material que ia encontrando", revelou.

Sara tornou-se amiga "de uma figura que é o senhor [Joaquim] Portugal", que a ajudou a navegar no espólio desta "espécie de `one woman show`" que se estreia hoje, dia que marca o 65.º aniversário do TEP.

O espetáculo, que até podia ter "65 anos de duração" e que foi vendo o tempo de duração reduzido até uma hora e 45 minutos, é um monólogo de Sara Barros Leitão que explora um lado "bastante emotivo", para o arquivo e a intérprete, que se centrou sobretudo "no pormenor".

"Desde logo excluí as grandes histórias, os grandes temas e as grandes peças, e foquei-me nas peças fracassadas, nas pessoas que ninguém conhece, nos beijos que não aconteceram, e rapidamente comecei a perceber que o que me interessava eram as histórias sem heróis, as cartas anónimas, as faturas dos restaurantes em que a companhia comeu 45 febras, a atriz que não desmaia bem em cena e recebe a indicação de praticar isso, e por aí fora", explicou.

Como pano de fundo da peça, está "um percurso pelos 65 anos desta companhia, que são também 65 anos da história do teatro português e da própria História de Portugal", numa obra que atravessa o período sob a ditadura, o 25 de Abril e a democracia, além das grandes lutas do setor, como "a luta pela profissionalização feita pelo TEP desde o início".

A "Teoria das Três Idades", que Sara Barros Leitão descreve como "quase uma história não autorizada, ou história do pormenor insignificante do TEP", é também "uma viagem altamente pessoal por todas estas histórias, cartas e documentos", abordando temas como a emancipação da mulher, no geral, e olhando igualmente para a própria criadora da obra, num "processo muito pessoal", em que explora o lado "artisticamente fatalista" que sente.

"Acho que o ato criativo é estar na iminência do suicídio. (...) O que não se conta, as dificuldades por que se passam, as dúvidas que se tem, por aí fora. Eu também sinto isso e o espetáculo também é sobre isso, também sobre os meus próprios pormenores insignificantes", comentou.

O título da peça parte de uma teoria do arquivismo que surge depois da II Guerra Mundial, em que a primeira idade corresponde a um "arquivo morto", pouco consultado, uma segunda idade de um arquivo visitado frequentemente, e uma terceira "onde se vai todos os dias".

Dentro dessa ideia, fez "um piscar de olhos ao facto do TEP entrar na terceira idade este ano", continuando "a reformar-se e a refazer-se", o que pede uma "reflexão sobre uma companhia que chega a esta idade e não tem uma casa, reforma, apoios", estabelecendo um "paralelismo" entre contribuições "para a Segurança Social, com o que se contribui para o país em trabalho e pensamento, e não ter agora uma base que a sustente na terceira idade".

À margem do espetáculo, será hoje exibido, pelas 19:00, o documentário "Caos Danado", realizado por Eduardo Breda, que acompanhou o processo de criação de "Teoria das Três Idades" antes de se relacionar, ele próprio, com o mesmo arquivo que foi fonte da peça.

Em dia de aniversário do TEP, o arquivo volta a ser protagonista, além do texto de Sara Barros Leitão, através de uma exposição, "O Arquivo do TEP. Poética e Política", inaugurada hoje pelas 16:00 na Galeria da Escola Superior Artística do Porto, mostrando até sexta-feira os 65 anos da história da companhia e a forma como se relaciona com a cidade e o país.

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