Saudade, amor e amizade, os três irmãos de Codé Di Dona

Cidade da Praia, 23 Mar (Lusa) - Para Codé di Dona, um dos nomes mais importantes da música popular cabo-verdiana, a família é importante, mas seria impossível viver a vida sem os seus "três irmãos", ao lado da "mãe saúde".

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"Saudade, amor e amizade são três irmãos" que o fazem cantar os seus "órgãos", uma concertina, um acordeão, diz numa entrevista à Agência Lusa o homem que se assume, humildemente, como um "trabalhador de Cabo Verde, agricultor, pastor e tocador".

Falando em crioulo, até o som das suas palavras parece poesia, enredada numa teia musical que inebria, tal a simplicidade, nota à Lusa Mário Lúcio, um dos nomes da já não tão nova geração de cantautores cabo-verdiana.

Como surgiu a música na sua vida? "Por acaso. Gosto muito de tocar órgãos e comprei um", já lá vão 65 anos.

Como surgem as suas composições? "Tenho amor, amizade e saúde. É a minha alegria. Vou trabalhar, acabo o trabalho e descanso. E quando descanso, toco os órgãos".

Qual é o prazer de tocar e cantar Funaná (um dos géneros tradicionais da música cabo-verdiana)? "É o prazer de lembrar amigos, o amor, a saudade. Crescemos juntos e depois eles embarcaram (para São Tomé e Príncipe e Angola) e nunca mais os vemos. Isso fica cá dentro de nós".

Autor de "Fomi 47", uma das mais belas canções de Cabo Verde, interpretada por todas as gerações, Codé di Dona lembra à Lusa a história que o levou a compô-la.

"Embarquei para São Tomé. O barco avariou e voltei para casa. Era um período de grande seca. Sete anos sem chover e criou uma grande crise. Não havia milho nem feijão. Não havia dinheiro", disse, lembrando que as palavras surgem sempre na companhia dos "três irmãos".

"Saudade, amor e amizade são três irmãos. Saúde é o principal, a mãe", argumenta Codé di Dona, do alto dos seus 71 anos, momentos antes de iniciar um espectáculo no Centro Cultural Português da Praia.

Codé di Dona, de seu verdadeiro nome Gregório Vaz, é um dos maiores vultos da história da música popular cabo-verdiana, sendo natural de Chaminé, uma pequena localidade do concelho de São Domingos, na ilha de Santiago, onde nasceu em 1928.

A história de Codé di Dona é feita de acasos, mas sabe-se que aprendeu a tocar gaita com outro dos "pais" da música de Cabo Verde, Antão Barreto. Autor de dezenas de sucessos, Codé di Dona sempre viveu uma vida humilde, no meio das tocatinas pródigas por todo o arquipélago, ganhando também o "nominho" de Rei Midas, uma vez que, diz-se em Cabo Verde, "tudo o que toca vira ouro".

Codé di Dona, um guarda florestal reformado e que vive actualmente em São Francisco, a poucos quilómetros da Cidade da Praia, forneceu autênticas pérolas musicais a outros dos grupos mais importantes de Cabo Verde, Bulimundo, Finaçon e Simentera.

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