Sociedade Guilherme Cossoul inicia segunda-feira comemorações 120 anos
A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, escola por onde passaram actores como Henrique Viana ou Raul Solnado, inicia segunda-feira as comemorações do seu 120º aniversário, numa iniciativa que visa apelar à construção de uma nova sede.
Apesar de o aniversário ter ocorrido a 07 de Setembro, a direcção resolveu comemorá-la de 12 a 18 de Dezembro "por ser mais fácil reunir as pessoas" e para "chamar a atenção para a necessidade de uma nova sede", disse à Lusa Élio Luís, presidente da direcção da Guilherme Cossoul.
"A Guilherme Cossoul foi uma grande escola de Cultura em Portugal e pretende continuar a sê-lo, mas para isso precisa de uma nova sede", sublinhou Élio Luís, mencionado nomes como Jacinto Ramos, José Viana, Raul Solnado, Henrique Viana e Luís Alberto, entre outros, que "fazem parte da história da sociedade".
Uma nova sede que a direcção da sociedade vê como um sonho, mas que Élio Luís "espera concretizar", porque apesar de a associação estar em litígio com o proprietário do edifício, acalenta a "esperança" de que a Câmara de Lisboa "não deixe morrer a instituição".
A comemoração dos 120 anos da instituição inclui uma exposição retrospectiva e a leitura de textos do Nobel da Literatura 2005, Harold Pinter, cuja estreia em Portugal ocorreu naquele palco em 1963.
Raul Solnado e Henrique Viana - que "nasceram" para o teatro na Guilherme Cossoul, tal como o actor Luís Alberto, entre outros - participarão na iniciativa "Filocafé - Guilherme Cossoul 120 anos", a decorrer dia 14, a partir das 22:00, que conta com a presença de outras personalidades ligadas à sociedade.
"Uma verdadeira escola para o teatro e para a vida", foi como Raul Solnado e Henrique Viana definiram a Guilherme Cossul em declarações .
Fundada em 1885 por 47 músicos amadores, em homenagem ao compositor e maestro Guilherme Cossoul, que morrera cinco anos antes, foi o Grupo Dramático homónimo, criado em 1893 por José Jorge Silva e mais tarde continuado pelo pedagogo e autor teatral Raul dos Santos Braga, que a prestigiou.
Um prestígio que, após a experiência de renovação empreendida a partir de 1945 por Jacinto Ramos, José Viana, Varela Silva, Romeu Correia, José Terra e pelo arquitecto Conceição e Silva valeu à Guilherme Cossoul ser considerada "o princípio de tudo" no arranque do moderno teatro português.
"Conservatório da Esperança" foi o cognome dado à Guilherme Cossoul pelo crítico teatral Jorge de Faria e corroborado por Henrique Viana", por estar localizada na Avenida D. Carlos I.
"Se sou actor, devo-o à Guilherme Cossoul, pois foi aí que comecei a minha carreira e a ela devo a minha formação como homem", disse Henrique Viana à Lusa, sublinhando a "camaradagem e o espírito de solidariedade" característicos da instituição.
Sócio da Guilherme Cossoul há 48 anos, com o número 8, Henrique Viana não esquece a sua "segunda casa, onde leu as grandes obras e os grandes autores", nem quando pisou o palco pela primeira vez.
"Amanhã há récita", de Varela Silva, foi a peça em que se estreou, juntamente com Luís Alberto, corria o ano de 1956.
Ainda como amador na Guilherme Cossoul integrou o elenco de "O dia seguinte", de Luís Francisco Rebello, e "Catão", de Almeida Garrett, até que "a grande senhora do teatro, Amélia Rey Colaço" o convidou para fazer um "teste" no Nacional D. Maria II.
"Ser actor profissional era algo que nunca me passara pela cabeça", enfatizou.
Também Raul Solnado "não esquece" a "paixão" que desde 1946 nutre pela instituição em frente da qual residia e que classifica como "um local de teatro de excelência", onde chegou a "lavar paredes, tectos e chão".
Um local de excelência que Jacinto Ramos ajudou a guindar à ribalta quando, em 1963, encenou a peça "O Monta-cargas", de Harold Pinter, numa tradução de Luís de Sttau Monteiro com cenários do pintor João Vieira, do conhecido Grupo do Café Gelo, que integrava criadores como Herberto Helder ou Mário Cesariny.
O facto de ter sido a Guilherme Cossoul a estrear Harold Pinter em Portugal é um dos motivos para os Artistas Unidos se associarem às comemorações com a leitura de textos do autor britânico este ano galardoado com o Nobel.
Uma sessão de curtas-metragens de realizadores portugueses (dia 13), "Músicas na Guilhas", com a participação de João Gil (dia 15), entre outros, e duas representações de "Casa de Mulheres", de Dacia Maraini, do grupo de teatro da sociedade, altaCena, (dias 16 e 17) e um almoço convívio encerram as comemorações dos 120 anos da Guilherme Cossoul.
Com um memorial onde pontuam nomes como Alina Vaz, Glícinia Quartin, Artur Semedo, Rogério Paulo, Carlos Avillez, Filipe Ferrer (na altura Filipe França), Carlos Néry, Fernanda Alves, Calvet da Costa, Bartolomeu Cid, Rogério Ribeiro, Lima de Freitas e João Veiga, a Guilherme Cossoul prepara-se agora para uma "viver uma nova fase".
"Uma nova fase que visa devolver à Guilherme Cossoul a força, importância e referência cultural que teve nos dois séculos anteriores", concluiu Élio Luís.