Sociedade Guilherme Cossoul terá de deixar espaço que ocupa há quase 100 anos em Lisboa

por Lusa

Lisboa, 28 jun (Lisboa) -- A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul terá de abandonar até ao final do ano as suas instalações, na zona de Santos, em Lisboa, já que o prédio onde está instalada foi vendido, disse hoje o seu presidente.

"O atual senhorio comunicou-nos que não queria renovar o nosso contrato, um contrato anual, porque o edifício tinha sido vendido e vai passar a ter outras funções. A Cossoul, que já está há perto de um século naquele edifício, vai ter que encontrar outras instalações", contou à Lusa o presidente da instituição, Paulo Tavares.

De acordo com o presidente da Guilherme Cossoul, associação privada de utilidade pública fundada em setembro de 1885, o edifício, "que sempre pertenceu a privados", foi colocado no mercado "há quase uma década", estando recentemente "à venda por 3,7 milhões de euros".

Desde que o n.º 61 da avenida D. Carlos I foi colocado à venda, a direção da Guilherme Cossoul tem "tentado encontrar soluções".

"Ou para conseguir permanecer neste espaço, que seria a nossa prioridade, ou para encontrar uma alternativa, e nesse sentido a Câmara Municipal de Lisboa (CML) tem sido o nosso parceiro direto nesse processo", referiu Paulo Tavares.

Ao longo da última década, "com diferentes executivos camarários tentou encontrar-se algumas soluções, mas com mudanças no executivo camarário ou alguns entraves por parte de autarquias foi difícil conseguir encontrar-se alguma solução".

Já no início deste ano, "com novos corpos gerentes, colocou-se como prioridade a resolução desta situação". Desde então a direção tem "trabalhado mais de perto com a CML na tentativa de sinalizar um espaço alternativo que possa abrigar a Cossoul", processo que o responsável considera "urgente e que requer alguma celeridade", referindo que, no entanto, "não é fácil hoje em dia encontrar uma alternativa".

O tema das instalações da Guilherme Cossoul foi abordado hoje na reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, depois de o vereador do PCP Carlos Moura ter questionado a maioria socialista sobre o despejo, noticiado inicialmente pelo Observador.

O vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, recordou que a autarquia cedeu, entre 2009 e 2013, um espaço à associação num palácio em Campolide.

Nessa altura, disse, a sociedade "ocupou mais do que previsto [só tinha parte do palácio], subalugou outra parte e não pagou as rendas", referiu, assinalando que a instituição entrou em "manifesto incumprimento" e, por isso, teve de desocupar o espaço.

Sobre a localização atual, notou que "o problema é que [...] o senhorio está, como está a ser recorrente em Lisboa, a exigir que seja revogado o contrato de forma a libertar o espaço".

Manuel Salgado não apontou, contudo, se a câmara vai ceder de novo algum espaço à instituição.

O presidente da Guilherme Cossoul acredita que a "cada vez maior intensificação da especulação imobiliária em Lisboa" fez com que o proprietário do edifício, "à venda há algum tempo e por um montante que aparentava ser muito acima do valor do mercado", conseguisse um comprador.

O responsável está convicto de que o problema será resolvido "atempadamente". "É neste sentido que estamos a trabalhar diariamente", disse, alertando que, apesar de o prazo para abandonar as instalações terminar em dezembro, a associação tem cursos "que decorrem durante o ano letivo, que começam em setembro/outubro", querendo, por isso, "o quanto antes resolver esta questão".

Criada há 131 anos por alunos de Guilherme Cossoul, maestro e violoncelista português, mas também fundador da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul "esteve desde sempre ligada às Artes, à Cultura e à formação dos cidadãos, principalmente os do bairro da Madragoa, em Santos".

"Grande parte do século XX a existência da Cossoul foi marcadamente ligada ao Teatro, não descurando as outras áreas, mas foi na Cossoul que surgiram muitos nomes do Teatro português [como Raul Solnado, Lina Vaz, José Viana, Varela Silva ou Filipe Ferrer]", recordou Paulo Tavares.

Atualmente, além das atividades de sempre, "foram acrescentadas a Literatura, as Artes Visuais, a Música, o Cinema, com muitas atividades, não só com o acolhimento de produções externas, mas também com a produção de projetos da casa".

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