Teatro de Marco Martins, 50 anos de O Bando e ópera de Wagner na nova temporada do CCB

A estreia da peça de Marco Martins, inspirada nos acontecimentos da Rua do Benformoso, o teatro de O Bando e de Christiane Jatahy, a ópera "Tannhäuser", de Wagner, destacam-se na temporada 2025-2026 do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Lusa /

A decorrer até julho de 2026, a nova temporada, hoje anunciada em Lisboa, revela atenção particular ao teatro e à música erudita, com atuações de orquestras portuguesas e estrangeiras, como a Orquestra XXI, projeto de maestro Dinis Sousa, e o Huelgas Ensemble, de Paul van Nevel, músicos como Pedro Burmester e François-Frédéric Guy, e a estreia de novas produções de ópera, de Puccini a Dino D`Santiago.

Segundo a lista de espetáculos e concertos hoje divulgada, há também o fado de Ana Sofia Varela, a dança de Vera Mantero e Victor Hugo Pontes, produções de Raquel Castro e do Teatro do Vestido.

A estreia da ópera de "Adilson", de Dino D`Santiago, na sexta-feira, no âmbito da Bienal BoCA, e da peça "Só Mais Uma Gaivota", na próxima semana, pela companhia Formiga Atómica, constituem as primeiras etapas da programação.

Na nota de apresentação, o conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB) - composto pelo presidente, Nuno Vassallo e Silva, e pela vogal Madalena Reis - afirma que "programar não é apenas apresentar espetáculos", mas também "criar espaços de diálogo e de experimentação, num tempo em que a cultura se afirma como um bem essencial e uma ferramenta de coesão social".

A estreia da peça "Um Inimigo do Povo", de Marco Martins, está marcada para março de 2026, no grande auditório. Inspirada na obra com o mesmo nome de Henrik Ibsen, toma por referência os acontecimentos de 19 de dezembro de 2024, em Lisboa, quando a PSP realizou uma operação especial de prevenção criminal na Rua do Benformoso, zona habitada maioritariamente por imigrantes do subcontinente asiático, em particular do Bangladesh.

"A rua foi encerrada e cerca de 60 pessoas foram forçadas a encostar-se à parede, com as mãos sobre a cabeça, durante cerca de duas horas. Os seus corpos foram obrigados a manter uma posição fisicamente extenuante e, simultaneamente, a esconder os rostos", recorda o texto sobre a peça, acrescentando que as imagens que se tornaram virais levaram o dramaturgo e encenador a propor uma reflexão sobre "a forma como os media e os partidos políticos de várias esferas as manipulam".

O conselho de administração do CCB sublinha ainda, no texto introdutório, que as escolhas da nova temporada assentam num "compromisso assumido com a acessibilidade e a sustentabilidade ambiental", através de projetos como Um Território Comum ou o Ministério do Sensível, na dimensão comunitária, e, na questão de integração de boas práticas ambientais, através da adesão ao Theatre Green Book, que procura atingir a neutralidade carbónica.

Nas escolhas artísticas - que "privilegiam os cruzamentos artísticos, marca identitária do CCB" - apontam a estreia de novas produções de ópera, colaborações com orquestras nacionais e internacionais, e o acolhimento de companhias de teatro e de dança "que repensam o nosso tempo", além dos projetos da Fábrica das Artes para a infância e juventude.

Sobre a mesma obra de Henrik Ibsen, "Um Julgamento", um projeto de Christiane Jatahy e Wagner Moura, irá revelar não uma adpatação mas um texto original, passados 150 anos sobre a sua criação, que aborda os mesmos temas: ecologia, a complexa relação entre política e ciência, o papel da imprensa, as `fake news` e "os discursos que oscilam entre a liberdade de expressão e a ameaça à democracia, hoje questões fundamentais".

Antes, em outubro, o projeto "liberaLinda" do Teatro O Bando - que celebra 50 anos de vida - reunirá um conjunto de ações que procuram revisitar, com os olhos de hoje, alguns momentos da companhia, com uma intervenção teatral, duas instalações cenográficas e um documentário intitulado "traVessia", que acolhe a exposição de 24 figurinos que marcaram o percurso do grupo, suspensos ao ar livre, numa homenagem às atrizes, atores e figurinistas que passaram pel`O Bando.

Também na área do teatro, está prevista, para outubro, a apresentação do projeto "Agustinópolis", numa colaboração do Teatro O Bando e da Associação Setúbal Voz, um espetáculo operático e teatral, com encenação de João Brites e composição musical de Jorge Salgueiro, que pretende celebrar a obra da escritora Agustina Bessa-Luís (1922-2019).

Em julho do próximo ano, será apresentada a peça "Quem tem medo de Virginia Woolf?", de Edward Albee, com encenação de Simão do Vale Africano, e antes, em março, subirá ao palco, "A Valentina e a Valeria não estão mortas", de Flávia Gusmão e Jacinto Lucas Pires, sobre as relações entre memória e imaginação, ficção e não-ficção.

Na área da dança estão programados os espetáculos "hOLD", de São Castro e Teresa Alves da Silva, sobre o envelhecimento, "Bocarra", de Luísa Saraiva, sobre o canto feminino e a violência contra as mulheres, "Os intransponíveis Alpes, à procura do Currito", da coreógrafa andaluza María del Mar Suárez (La Chachi), uma nova peça da Companhia Maior, com direção de Victor Hugo Pontes, "F*cking Future", do coreógrafo Marco da Silva Ferreira, e dois espetáculos da bailarina e coreógrafa Vera Mantero.

Quanto à música erudita, estreia já sexta-feira a ópera de Dino D`Santiago, "Adilson", uma encomenda e produção original da BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas, que cruza história, cultura e a identidade multicultural portuguesa.

No início de outubro, estreia-se uma nova produção de ópera intitulada "Suor Angelica & Gianni Schicchi", num frente a frente da tragédia e da comédia de Puccini, com encenação de Carmine De Amicis e direção musical de Renato Balsadonna.

Em abril de 2026, uma nova produção do Teatro Nacional de São Carlos da ópera "Tannhäuser", de Wagner, encenada por Max Hoehn, com direção musical de Graeme Jenkins, estará no grande auditório do CCB.

A programação conta ainda com atuações de diferentes orquestras, nomeadamente, até ao final do ano, da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com o pianista François-Frédéric Guy, nos Concertos de Chopin, da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, no Concerto de Halloween.

Haverá ainda as Danças Sinfónicas de "West Side Story", pela Orquestra Metropolitana de Lisboa e Christian Vásquez, e o programa "O delírio amoroso de Handel", pelo Gabetta Consort e Samuel Mariño.

Em dezembro, o Concerto de Natal e a "Missa para a noite de Natal", de Ponchielli, pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, irão ao grande auditório do CCB, no dia 21, antecedendo o Concerto de Ano Novo, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em 01 janeiro 2026.

Huelgas Ensemble, Concentus Musicus de Viena, numa homenagem ao maestro Nikolas Harnoncourt, London Mozart Players, Sinfonietta de Lisboa, Orquestra de Câmara Portuguesa e a Orquetra das Beiras, Os Músicos do Tejo, Ensemble ars ad hoc são outros protagonistas anunciados para a área da música erudita.

No fado, estão previstos concertos de Teresinha Landeiro, José Geadas, Vanessa Alves, Ana Sofia Varela e José Manuel Neto, enquanto no jazz pontuam nomes como Cécile McLorin Salvant, Mário Laginha, Pedro Branco e João Sousa, os Garfo e o André Rosinha Trio.

Nas `outras músicas` será dada `carta branca` a Cátia Oliveira (A Garota Não).

Para os mais novos, estreiam-se na Fábrica das Artes, em janeiro, março e abril de 2026, respetivamente, o espetáculo imersivo "O Paraíso São os Outros", pelo Teatro da Cidade e Nídia Roque, com texto de Valter Hugo Mãe, "Ti Chitas - a voz que é uma montanha", de Teresa Gentil, com a Orquestra D`Aquém Mar e Pedro Castro, e o concerto multidisciplinar "O Coro - Missão: Democracia", de Beatriz Pessoa.

Parte da programação das artes performativas do CCB para 2025-2026 foi ainda desenhada pela anterior diretora artística, Aida Tavares.

O CCB abriu em junho um concurso de âmbito internacional para seleção e recrutamento da nova Direção das Artes Performativas, processo que deverá estar concluído em novembro.

A programação integral fica disponível no `site` do CCB.

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